História do café no Brasil Imperial
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III

 


títulos
. Num si mete nesse samba Não!
 

Autor: Aloysio C M I J Breves Beiler

janeiro/2002

 
 

Ele chegava sempre devagar, mancando de uma perna, bengala na mão, capote escuro e chapéu. Um negro de meia idade, talvez uns sessenta anos. Alto e fala mansa, cumprimentava a todos. Visitava sempre meu tio e minha avó.

Quando via confusão por perto, dizia para nós moleques:

"Num si mete nesse samba não!"

Ou quando a confusão apertava, emendava:

"em briga de jacú, inhambú num entra".

Não me recordo seu nome. Morávamos no interior e tipos assim eram comuns. Aliás, toda cidade têm os seus. E não adianta passá-los adiante porque voltam sempre.

Uma vez ele foi em Barra do Piraí visitar meu tio. Costumava entrar sem bater, pela garagem. Havíamos dado um cachorro boxer para meu tio. Meus irmãos eram pequenos e o cão era perigoso. Ferocíssimo! dizia minha mãe. Até mesmo para alimentá-lo era um transtorno.

O danado do cão recebeu até uma benção especial de meu tio padre para que se acalmasse. Era comum vê-lo acabar de comer e ficar dando voltas no pátio com a panela na bôca presa nos dentes. Meu tio que era fumante de cachimbo, achava graça e dizia que ele também estava pitando.

O homem enfim entrou na garagem, como costumava fazer. O boxer se atirou em cima dêle e enfiou os dentes na perna estropiada, na parte baixa da canela.

Arrancou a perna e ficou com ela presa nos dentes, rodando como fazia na hora da comida. Cena dantesca: um homem estirado no chão e a fera rosnando com sua perna na bôca.

Desesperado o homem gritou por socorro. Vieram todos que estavam na casa e tiraram o coitado do chão e o levaram para a sala. Foi um custo para tirar a perna dos dentes do animal.

Era uma perna-de-pau! E nunca havíamos percebido!
 
 
 
 

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