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Num si mete nesse
samba Não! |
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Autor: Aloysio
C M I J Breves Beiler
janeiro/2002 |
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Ele
chegava sempre devagar, mancando de uma
perna, bengala na mão, capote escuro e
chapéu. Um negro de meia idade, talvez uns
sessenta anos. Alto e fala mansa,
cumprimentava a todos. Visitava sempre meu
tio e minha avó.
Quando via confusão por perto, dizia para
nós moleques:
"Num si mete nesse samba não!"
Ou quando a confusão apertava, emendava:
"em briga de jacú, inhambú num entra".
Não me recordo seu nome. Morávamos no
interior e tipos assim eram comuns. Aliás,
toda cidade têm os seus. E não adianta
passá-los adiante porque voltam sempre.
Uma vez ele foi em Barra do Piraí visitar
meu tio. Costumava entrar sem bater, pela
garagem. Havíamos dado um cachorro boxer
para meu tio. Meus irmãos eram pequenos e o
cão era perigoso. Ferocíssimo! dizia minha
mãe. Até mesmo para alimentá-lo era um
transtorno.
O danado do cão recebeu até uma benção
especial de meu tio padre para que se
acalmasse. Era comum vê-lo acabar de comer e
ficar dando voltas no pátio com a panela na
bôca presa nos dentes. Meu tio que era
fumante de cachimbo, achava graça e dizia
que ele também estava pitando.
O homem enfim entrou na garagem, como
costumava fazer. O boxer se atirou em cima
dêle e enfiou os dentes na perna estropiada,
na parte baixa da canela.
Arrancou a perna e ficou com ela presa nos
dentes, rodando como fazia na hora da
comida. Cena dantesca: um homem estirado no
chão e a fera rosnando com sua perna na bôca.
Desesperado o homem gritou por socorro.
Vieram todos que estavam na casa e tiraram o
coitado do chão e o levaram para a sala. Foi
um custo para tirar a perna dos dentes do
animal.
Era uma perna-de-pau! E nunca havíamos
percebido!
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