Casarão
tombado na Glória sofre com abandono
Thais Lobo - 11/03/11 às 23:32 - Extra
RIO - No casarão de número 6 da Rua do Catete, na Glória,
afrescos de estilo neoclássico, trazidos pela Missão
Francesa, e estatuetas de mármore convivem com rachaduras,
mofo e vazamentos há pelo menos seis anos. Desde que a
faculdade de medicina da Souza Marques deixou as instalações
do Asilo São Cornélio, em 2005, o imóvel — construído em
1862 e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) — entrou em um vertiginoso estado
de abandono.
O Conselho Comunitário da
Glória já protocolou uma ação nos ministérios público
federal e estadual contra a Santa Casa, proprietária do
imóvel, por abandono de patrimônio público. O conselho quer
que o imóvel seja transformado em um centro cultural do
bairro. A estimativa do conselho é que sejam necessários de
R$ 10 milhões a R$ 20 milhões para recuperar o prédio.
— A parte interna do prédio está em avançado estado de
abandono. Parte dos afrescos pintados no teto está caindo, o
assoalho está se soltando. É um patrimônio muito rico da
cidade do Rio que está abandonado, mas ainda pode ser
restaurado — explicou Jorge Mendes, secretário do conselho.
— A ideia é que o centro cultural seja um lugar de
referência da memória do bairro, além de recuperar o espaço
urbano e o patrimônio cultural. A Glória é um bairro
histórico e queremos, inclusive, trazer de volta o
patrimônio que foi retirado daqui, como o Chafariz das
Ninfas, que está na sede da prefeitura, na Cidade Nova. O
centro cultural funcionaria com atividades musicais no fim
de semana, oficinas de arte, café, etc.
Para o superintendente do Iphan no Rio, Carlos Fernando
Andrade, a responsabilidade pela má conservação do casarão é
da Santa Casa.
— A Santa Casa tenta passar o imóvel para um novo inquilino
e, por conta disso, não faz nenhuma obra ali. Há um sem
número de interessados que não conseguem chegar a um acordo
com a entidade. O último foi um hospital — afirmou Andrade.
— O fato de a Santa Casa não ter dinheiro não significa que
pode deixar o imóvel cair. É preciso ter espírito público.
A Santa Casa da Misericórdia alega que o prédio estava sob
responsabilidade da Souza Marques, antiga locatária que
teria devolvido o casarão com a estrutura bastante
danificada. Em nota, a entidade afirma que briga na Justiça
pela reparação do local e também para que a Souza Marques
quite débitos referentes ao aluguel do prédio.
A Souza Marques, por sua vez, nega o atraso no pagamento dos
aluguéis e afirma que não foi acionada em qualquer processo
na Justiça. A diretora da faculdade e secretária do curso de
medicina, Leopoldina Souza Marques, diz ainda estar surpresa
com o posicionamento da Santa Casa, já que a faculdade
utiliza enfermarias cedidas pela entidade no Hospital Geral,
no Centro. |