Dos acima,
o único vivo, D. José de Almeida e
Vasconcelos, de velha estirpe
portuguesa, atualmente marquês de Ruriz
por herança, reside em Portugal.
João
Batista de Castro nasceu em São João d'El
Rei, província de Minas, à margem do
lendário rio das Mortes, em 1849, filho
primogênito de João Batista de Castro e
Claudina Severina Batista da Silva. Pelo
lado do pai foi seu bisavô, João Batista
Machado, cujo retrato acha-se pintado no
teto da Matriz de São João d'El Rey,
província das ilhas, talves dos Açores.
Foi riquíssimo negociante, ao tempo que
se nadava em ouro nas Minas, era pai de
Mariana Cândida de Jesus e Castro c.c. o
Alferes Joaquim de Castro e Souza,
natural de Portugal. Saint-Hilaire na
Segunda Viagem a São Paulo, conta a
entrevista que teve com esse rico
comerciante em São João d'El Rey, para
quem trazia uma carta de crédito de João
Rodrigues Pereira de Almeida.
Pelo lado
materno foi seu avô o Coronel Francisco
Isidoro Batista da Silva, natural de
Santarém, sobrinho de Dom Frei Cipriano,
bispo de Mariana. Vieram juntos para o
Brasil, aquele como militar de linha
(milícias) este para pôr em ordem o
bispado. Eram de antiga nobreza
lusitana. Uma peculiaridade de Frei
Cipriano; não ordenava pretos.
A avó
materna Claudina Severina de Resende era
da antiga e vasta família dos Resendes
da Inconfidência, em que figurou um
deles como participante, natural das
imediações de São João d'El Rey.
João
Batista de Castro até aos treze e meio
anos de idade estudou as primeiras
letras no Brasil, seguiu paa a
Inglaterra, por determinação de seu pai,
influenciado por amigos dessa
nacionalidade, com os quais comerciava
na cidade do Rio de Janeiro. Foi seu tio
Carlos Batista de Castro, barão de
Itaípe, seu acompanhante nessa viagem a
Europa, foi o sogro do conde de Afonso
Celso.
Após dois
anos de estudo em Baylis House, nas
cercanias de Windsor Castle, seu pai,
que fora à França, fê-lo matricular-se
no Liceu São Luís, em Paris; o único
nesse Instituto, onde havia oito
paraguaios.
Atraído
por outros rapazes brasileiros, seguiu
para Bruxelas, onde cursou os
preparatórios exigidos na Universidade
de Gand, a fim de cursar Engenharia
Industrial, obtendo seu diploma em 1873.
Matriculou-se novamente ao lado de Ramos
de Azevedo, com o fito de diplomar-se
como engenheiro arquiteto; não
prosseguiu os seus estudos, porque seu
irmão Carlos não quis completar o curso
que fazia na Universidade. Esse irmão
tinha uma belíssima voz de tenor, tendo
cantado como amador na cerimoniosa corte
austríaca, mercê dos seus magníficos
dotes vocais.
Regressou
João ao Brasil com sua mãe viúva e
irmão. Voltou com idéias republicanas,
adquiridas com os brasileiros que
conviveu na Europa.
Casou-se
no Rio de Janeiro, com uma filha do
Comendador João Martins cornélio dos
Santos e Cecília Sousa Breves, indo
residir em Juiz de Fora, onde apesar de
republicano confesso, elegeram-no
vereador, conservadores e liberais.
Renunciou ao cargo após algum tempo, por
discordar dos processos políticos e
administrativos vigentes na época.
Foi
presidente da Estrada de Ferro Juiz de
Fora a Piaui, tendo como empreiteiro
Quintino Bocaiúva, de quem se tornou
amigo. Montou uma fábrica de cal e
exploração de mármores em Carandaí, onde
construiu fornos contínuos, com camisa
refratária de pedra sabão, tirada de
suas terras. Construiu em Juiz de Fora
um chalé em estilo suíço que na época
era a melhor casa em conforto e
aparência.
Indo ao
Rio tratar de negócios, encontrou-se com
seu parente Conselheiro Lima Duarte, que
lhe pediu que hospedasse membros da
Família Imperial, naquela cidade,
travando-se então o seguinte diálogo:
- Não
hospedo essa gente por sermos inimigos
políticos.
- Castro
ainda hei de fazer-lhe barão, você é
republicano por esnobismo.
O
resultado dessa conversa deu-se mais
tarde, o Dr. Castro trouxe toda família
para o Rio, fechou sua casa em Juiz de
Fora, para não ter que hospedar pessoas
que julgava indesejáveis.
Em 31 de
agosto de 1881, foi inaugurado o trecho
da estrada de ferro Juiz de Froa a
Pomba, num percurso de 75kms, com a
presença de Suas Majestades, tendo duas
barracas de "comes e bebes", uma para as
augustas pessoas, comitiva e demais
autoridades. A outra para os operários e
foi para esta que o presidente da
estrada o engenheiro João Batista de
Castro de dirigiu. D. Pedro II reclamou
a presença dele. Com alguma relutância
Dr. Castro se encaminhou para a barraca
onde se achava o Imperador, sentando-se
ao lado da Imperatriz, conversando o
tempo todo com ela, sem se dirigir ao
ilustre esposo. De quando em vez os seus
olhares se encontravam e este desviava
os olhos porque não conseguia fixá-los
nos do outro, porque mais pareciam duas
brasas acesas.
Em todas
as festividades brasileiras, como nesta,
havia banda de música e rojões. Desta
vez, porém, o Imperador por luto de um
seu Ministro, ordenou que abstivessem
dessas manifestações ruidosas, em sinal
de pesar, pelo infausto acontecimento,
no que foi atendido. Mas, na hora da
partida de Suas Majestades Imperiais e
comitiva, o Dr. Castro, gritou "rompa
meu povo" e os dobrados da banda
retumbaram e as bombas dos foguetes
espoucaram no ar.
A paixão
política, turva a mente dos indivíduos a
ponto de transtornar os espíritos mais
lúcidos. A desobediência visava ao
regime que o Imperador representava e
não a sua pessoa austera e digna.
Passando a
residir no Rio o Dr. Castro tornou-se
comissário de café, sucedendo a seu
sogro. Fez-se membro da Sociedade
Nacional da Agricultura, e como 1º
vice-presidente, representou a entidade
no congresso agrícola de Belo Horizonte,
presidido por João Pinheiro, fazendo
vingar, na sessão de café, graças a
palavra eloqüente e persuasiva de dr.
Stockler os princípios da propaganda,
traduzindo para nossa língua, com
autorização solicitada ao autor,
deputado francês Gailhard Bancelo, o
Manual Prático dos sindicatos agrícolas.
Como
propagandista do cooperativismo, Batista
de Castro, escrevia no Jornal do
Comércio do Rio, no Correio de Minas de
Juiz de Fora e outros jornais, sem
omitir o Jornal dos Agricultores, de
Antônio Medeiros. a convite de João
Pinheiro, foi a Belo Horizonte expor
suas idéias sobre o problema do café,
tendo, a esse tempo, obtido da firma
Paul Kack, de Hamburgo, a representação
de máquinas de beneficiar café, cujo
trabalho permita transformar os nossos
cafés de terreiro em cafés lavados,
tirando disso provas práticas. Submetido
o café à máquina e suas operações
complementares, comissários do Rio e São
Paulo, jamais descobriram ter antes seus
olhos, aqueles tipos de café lavados,
provindos de café de terreiro! E assim
se conseguia imitar cafés de renome,
Java, Bourbon, Ceylão etc.
Concebeu o
plano de uma vasta associação de
lavradores, plantadores de café, sob
base cooperativista, cuja sede central,
caberia de direito a São Paulo, com
ramificações idênticas em Minas, Rio,
Espírito Santo, Bahia etc. Os
fazendeiros associados, estabeleceriam a
cota a ser arrecadada pelos governos dos
Estados produtores. As importâncias
arrecadadas reverteriam em benefício dos
mesmos fazendeiros indiretamente. Sob
fiscalização do governo, o produto das
cotas, seriam entregues às associações
que aplicariam da seguinte maneira:
instituiriam o crédito agrícola, fábrica
de sacos, adubos, seguros, propaganda,
inclusive o transporte marítimo em
vapores próprios.
Todos os
serviços e produtos fabricados pelas
associações, seriam utilizados pelos
associados, pelo preço de custo
acrescido das despesas administrativas e
operacionais, proporcionalmente à
produção de cada fazendeiro. Por esta
forma, conseguiriam baratear o produto,
melhorando-o e realizando um princípio
verdadeiro: "produzir muito, muito bom e
muito barato". A produção seria
controlada dentro da oferta e procura,
lei que rege os mercados livres. Os
próprios lavradores cuidariam melhor e
mais sensatamente dos seus interesses
que o mais bem intencionado governo,
"mais sabe o tolo no seu, que o avisado
no alheio."
As taxas e
sobretaxas seriam eliminadas e, tanto
quanto possível, a supressão de
elementos intermediários, parasitários,
interpostos entre produtores e
consumidores. E continuava, não são os
estrangeiros senhores e distribuidores
dos nossos produtos que irão conquistar
em nosso benefício, o alargamento do
consumo. Este será conseguido pelo
próprio esforço de quem produz,
realizando outro princípio não menos
verdadeiro, "produzir em boas condições,
vender vantajosamente e conquistar novos
mercados."
Certa vez,
foi-lhe oferecida a praia de Copacabana
por 60 contos de réis. Não lhe
interessou a transação respondendo:
- "Que
irei fazer com tanta areia..."
Nas
vésperas de proclamar-se a República,
num café do beco das Cancelas no Rio,
indagava de Sampaio Ferraz o que havia,
pois no ar qualquer cousa rosnava. Não
obteve resposta, no dia seguinte
proclamava-se a República. Após este
acontecimento, foi chamado por Sampaio
Ferraz, para chefiar o policiamento no
pior bairro, a Saúde, centro da
malandragem e capoeiragem do Rio de
Janeiro. À medida que saneava esse
bairro, com a prisão dos marginais que
lá viviam, era procurado por negras que
tentavam suborná-lo com presentes,
alguns valiosos, suplicando-lhe que não
enviasse seus homes para Fernando de
Noronha.
Residindo
Dr. Castro em Petrópolis, a esse tempo,
Alcindo Guanabara de acordo com o
governador Dr. Francisco Portela
nomearam-no Presidente da Municipalidade
dessa localidade, onde presidiu a
primeira eleição, após a promulgação da
Constituição.
Havia
oposição chefiada pelo Dr. Porciúncula,
vencedora no pleito. Os situacionistas,
quiseram fraudar, mas Dr. Castro não
consentiu e ameaçou denunciar a fraude e
anular as eleições.
Construiu
o palacete Castro, nas fraldas de um
morro no alto da serra de Petrópolis,
circundando-o um gramado inglês, com
cavalariças do lado. No frontespício do
palacete, o símbolo da república e logo
abaixo as iniciais JBC. No canto
esquerdo desse solar, visto de frente,
uma torre no velho estilo do castelo. A
escadaria de entrada toda de mármore,
acima um alpendre com colunas que
sustentavam uma varanda no andar
superior. Era um belíssimo prédio. Nesta
época, falecia sua primeira mulher na
fazenda Santa Maria Madalena.
Mais
tarde, esse palacete foi desapropriado
pelo governo do Estado do Ro, demolido,
e em seu lugar construiram uma vila
operária...
Teve uma
questão de somenos importância, com o
conde de Frontin, que se agravou quando
se encontraram na barca de Petrópolis. O
Dr. Castro foi pedir explicações, o
conde amedrontado pensou que ia ser
vítima de uma agressão, se refugiou
atrás de umas senhoras sentadas num
banco e, brandindo o seu guarda-chuva,
vociferava. Antes de decorridas 24 horas
deste incidente, alcindo Guanabara se
apresentava na residência do conde, como
padrinho de Batista de Castro, para em
nome este, desafiá-lo para um duelo.
Duelo que nunca se realizou pela recusa
do desafiado.
João
Batista de Castro foi fazendeiro em
Minas, Rio, Espírito Santo e São Paulo.
Promoveu um inquérito sobre o gado zebu.
Colaborou com Sérgio de Carvalho para a
vinda do Dr. H. Raquet, fundador do
posto zootécnico de São Paulo.
Representou a Sociedade Nacional de
Agricultura em vários congressos
agrícolas, inclusive esteve na
inauguração oficial, ao lado de Oliveira
Belo, da Escola Agrícola Luís de Queirós
em Piracicaba no Estado de São Paulo.
Bateu-se
contra o convênio de Taubaté e outras
valorizações artificiais que, dentro do
seu ponto de vista, só trariam
sobrecargas de tributações encarecendo o
produto, dificultando o consumo, abrindo
brecha para os sucedâneos e
sofisticações. Ao mesmo tempo, incitava
maiores culturas que viriam provocar
desequilíbrios entre produção e consumo.
Casou-se
segunda vez com Forliska de Mattos,
motivo do envio dos filhos para
estudarem na Europa. Deste matrimônio,
teve dois filhos Luís e Pedro.
Exilou-se,
como dizia, em Aparecida do Norte no
Estado de São Paulo, onde adquiriu um
sítio e descobriu uma leguminosa
forrageira cujos detalhes acham-se
consignados na publicação Chácaras e
Quintais, tendo a análise química desse
vegetal, revelado propriedades notáveis,
como alimento para gado.
Em matéria
de laticínios pregou a escola
dinamarquesa baseada nas cooperativas,
que infelizmente o Dr. Eduardo Jacobina
não conseguiu impor ao seu projeto de
estatutos, apresentado na reunião de
criadores de Guaratinguetá, prevalecendo
uma sociedade por quotas.
Não sendo
a República aquela dos seus sonhos,
alistou-se em 1928 no Partido
Democrático, a fim de regenerá-la.
Assumiu a Prefeitura de Aparecida, onde
sofreu tremenda oposição por ser
anti-clerical. No seu entender houve só
um presidente digno desse nome: Prudente
de Morais.
Passou a
residir no Município de Taubaté, onde
tinha uma propriedade agrícola no vale
do rio Una, e constituiu a terceira
família, com cinco filhos.
Internou-se na Santa Casa de Taubaté
para tratamente de saúde. Aos 95 anos
falecia.