Curiosa é a forma encontrada por muito
de nossos antepassados para
atravessarem o rio da morte e chegarem
ao Paraíso desejado.
Tal como os gregos que usavam Caronte
para transpor o Aqueronte, e colocavam
uma moeda na língua do indivíduo para
pagamento ao barqueiro, ou ficariam na
margem impedidos de atravessar e,
portanto, viriam infernizar a vida dos
mortais, os brasileiros do Império,
gastavam vultosas somas em esmolas,
missas ou capelas como chamavam, se
afastavam de seus pares na condução do
caixão, e se aproximavam da pobreza,
deixando legados ou forros àqueles que
lhes serviam.
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Fazendas: São Joaquim da Grama,
Santo Antônio da Olaria, Palmeiras
e São José do Pinheiro. |
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Tomemos como exemplo alguns membros da
família Breves:
O comendador Joaquim José de Souza
Breves, considerado por seus pares
como "rei do café no Brasil Imperial",
foi um dos homens mais ricos de seu
tempo. Senhor de numerosa escravaria
(calculamos em 12 mil escravos) quando
morreu havia deixado em testamento a
seguinte disposição:
Fazenda de São Joaquim da Grama, 30 de
abril de 1887
·
recomendo que seja vestido com roupa preta de meu uso para ser sepultado
em uma das catacumbas do templo que
estou mandando construir e que o
caixão em que for encerrado seja na
maior simplicidade, sem galão algum,
nem de prata, nem de ouro, e quando
muito de lã preta, forrado si for
necessário apenas de baêta, sendo
conduzido meu corpo ao último jazigo
por seis pobres, aos quais meu
testamenteiro dará a esmola que lhe
parecer.
·
que se evite a cerimônia da missa de sétimo dia porque a considero como
ser uma ocasião pungente de dores
mortais, ou como cena de afetação que
dá lugar a comentários impróprios de
uma ocasião tão lúgubre e melancólica.
Simplicidade demasiada para quem foi
tão rico, poderoso e temido.
Anteriormente, em 31 de agosto de
1842, Dona Maria Pimenta de Almeida
Souza Breves, esposa do Capitão-mór
José de Souza Breves, mãe de Joaquim,
tomou também essas providências em seu
testamento:
·
que se diga por sua alma, quatro capelas de missas;
·
que se diga pelas almas de seus finados escravos uma capela de missa;
·
que seu testamenteiro repartirá com os pobres desta freguesia a quantia
de quatrocentos mil réis;
·
que deixa a quantia de quatrocentos mil réis para o casamento de duas
órfãs que seu testamenteiro escolherá;
·
que deixava forra por sua morte as suas escravas Luiza Crioula e Caetana
Crioula pelos bons serviços que lhe
tem prestado.
O comendador José Breves, irmão de
Joaquim, também toma providências em
seu testamento de oito de julho de
1870:
·
que o enterro seria à vontade dos testamenteiros, proibindo que fosse
autopsiado e seu corpo fosse
embalsamado de qualquer modo;
·
no dia do enterro fossem distribuídos aos pobres e órfãos da sua
freguesia e aos que concorressem ao
auto a quantia de 4:000 $ de esmola;
·
que o seu testamenteiro mandará celebrar missas de corpo presente e mais
orações em sufrágios pela sua almva,
sendo a esmola de 10$ em cada missa, e
durante oito dias depois da sua morte
serão celebradas mais 50 missas por
dia, na mesma intenção, sendo de 5$ a
esmola.
·
serão celebradas as seguintes capelas de missas: 30 pela alma de sua
finada consorte; 30 pelas almas de seu
pai e mãe; 30 pelas almas do seu sogro
e sogra, padrinhos de batismo e
crisma; 10 pela dos seus avós paternos
e maternos; 5 pelas dos seus irmãos de
ambos os sexos; 5 pelas dos seus
parentes de sangue e afins; 5 pelas
das pessoas com as quais teve
transações; 5 pelas dos seus amigos de
afetos e conhecidos; 30 pelas almas;
15 pelas almas de todos os seus
escravos falecidos; e 10 pelas almas
do Purgatório.
·
libertava todos os seus escravos, deixando para seu sustento, fazendas,
pensões em dinheiro, ilhas, etc.
O velho José Breves, proprietário da
fazenda do Pinheiro, exagerou na
reconciliação com Deus, mandando
celebrar 175 missas.
Outra, foi Dona Cecília Breves de
Moraes Costa, casada com um dos filhos
do rei do café. Sofreu muito em vida,
e viu seu patrimônio ser dilapidado
por um dos filhos. Recomendou:
·
que seu corpo fosse vestido com uma camisola de algodão mais simples;
·
fosse embrulhado numa esteira de palha e colocado numa rede;
·
que fosse transportado por seus escravos de confiança e depositado em
túmulo de cova rasa no cemitério de
Piraí;
·
que não plantassem flores, somente grama.
Quando fizeram a remoção para sepultar
uma de suas netas, encontraram restos
da esteira e algodão. Não havia
caixão.
Outro Breves, o barão de Louriçal,
Francisco de Assis Monteiro Breves,
era solteiro e sem herdeiros forçados.
Agindo como um cavalheiro, reconheceu
a paternidade de diversos filhos com
suas escravas.
Rico proprietário de uma próspera fazenda cafeeira em Mar de
Espanha e de duas grandes propriedades
agrícolas em Itaperuna (RJ), uma delas
utilizadas para extração de madeiras,
elaborou seu testamento em 1894,
dispondo suas últimas vontades.
Nele registrou o relacionamento com algumas de suas
ex-escravas e reconheceu a paternidade
de determinados filhos delas. Alegou:
“Que por fraqueza humana teve com suas ex-escravas ...,
diversos filhos, os quais existem e
são os de nomes ..., os quais ele
testador os reconhece como seus filhos
como se fossem de legítimo matrimônio
e os institui seus universais
herdeiros. |