Curiosidades, Mitos, Lendas e Realidade nas terras dos Breves

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  Luca Giordano La barca de Caronte, Sueño, Noche y Morfeo 1684-86 (Palazzo Medici-Riccardi)  
  Pagando os pecados...  
 
 
Curiosa é a forma encontrada por muito de nossos antepassados para atravessarem o rio da morte e chegarem ao Paraíso desejado.

Tal como os gregos que usavam Caronte para transpor o Aqueronte, e colocavam uma moeda na língua do indivíduo para pagamento ao barqueiro, ou ficariam na margem impedidos de atravessar e, portanto, viriam infernizar a vida dos mortais, os brasileiros do Império, gastavam vultosas somas em esmolas, missas ou capelas como chamavam, se afastavam de seus pares na condução do caixão, e se aproximavam da pobreza, deixando legados ou forros àqueles que lhes serviam.

 
Fazendas: São Joaquim da Grama, Santo Antônio da Olaria, Palmeiras e São José do Pinheiro.
 

Tomemos como exemplo alguns membros da família Breves:

O comendador Joaquim José de Souza Breves, considerado por seus pares como "rei do café no Brasil Imperial", foi um dos homens mais ricos de seu tempo. Senhor de numerosa escravaria (calculamos em 12 mil escravos) quando morreu havia deixado em testamento a seguinte disposição:

Fazenda de São Joaquim da Grama, 30 de abril de 1887

·       recomendo que seja vestido com roupa preta de meu uso para ser sepultado em uma das catacumbas do templo que estou mandando construir e que o caixão em que for encerrado seja na maior simplicidade, sem galão algum, nem de prata, nem de ouro, e quando muito de lã preta, forrado si for necessário apenas de baêta, sendo conduzido meu corpo ao último jazigo por seis pobres, aos quais meu testamenteiro dará a esmola que lhe parecer.

·       que se evite a cerimônia da missa de sétimo dia porque a considero como ser uma ocasião pungente de dores mortais, ou como cena de afetação que dá lugar a comentários impróprios de uma ocasião tão lúgubre e melancólica.

Simplicidade demasiada para quem foi tão rico, poderoso e temido.

Anteriormente, em 31 de agosto de 1842, Dona Maria Pimenta de Almeida Souza Breves, esposa do Capitão-mór José de Souza Breves, mãe de Joaquim, tomou também essas providências em seu testamento: 

·       que se diga por sua alma, quatro capelas de missas;

·       que se diga pelas almas de seus finados escravos uma capela de missa;

·       que seu testamenteiro repartirá com os pobres desta freguesia a quantia de quatrocentos mil réis;

·       que deixa a quantia de quatrocentos mil réis para o casamento de duas órfãs que seu testamenteiro escolherá;

·       que deixava forra por sua morte as suas escravas Luiza Crioula e Caetana Crioula pelos bons serviços que lhe tem prestado.

O comendador José Breves, irmão de Joaquim, também toma providências em seu testamento de oito de julho de 1870:

·       que o enterro seria à vontade dos testamenteiros, proibindo que fosse autopsiado e seu corpo fosse embalsamado de qualquer modo;

·       no dia do enterro fossem distribuídos aos pobres e órfãos da sua freguesia e aos que concorressem ao auto a quantia de 4:000 $ de esmola;

·       que o seu testamenteiro mandará celebrar missas de corpo presente e mais orações em sufrágios pela sua almva, sendo a esmola de 10$ em cada missa, e durante oito dias depois da sua morte serão celebradas mais 50 missas por dia, na mesma intenção, sendo de 5$ a esmola.

·       serão celebradas as seguintes capelas de missas: 30 pela alma de sua finada consorte; 30 pelas almas de seu pai e mãe; 30 pelas almas do seu sogro e sogra, padrinhos de batismo e crisma; 10 pela dos seus avós paternos e maternos; 5 pelas dos seus irmãos de ambos os sexos; 5 pelas dos seus parentes de sangue e afins; 5 pelas das pessoas com as quais teve transações; 5 pelas dos seus amigos de afetos e conhecidos; 30 pelas almas; 15 pelas almas de todos os seus escravos falecidos; e 10 pelas almas do Purgatório.

·        libertava todos os seus escravos, deixando para seu sustento, fazendas, pensões em dinheiro, ilhas, etc.

O velho José Breves, proprietário da fazenda do Pinheiro, exagerou na reconciliação com Deus, mandando celebrar 175 missas.

Outra, foi Dona Cecília Breves de Moraes Costa, casada com um dos filhos do rei do café. Sofreu muito em vida, e viu seu patrimônio ser dilapidado por um dos filhos. Recomendou:

·       que seu corpo fosse vestido com uma camisola de algodão mais simples;

·       fosse embrulhado numa esteira de palha e colocado numa rede;

·       que fosse transportado por seus escravos de confiança e depositado em túmulo de cova rasa no cemitério de Piraí;

·        que não plantassem flores, somente grama.

Quando fizeram a remoção para sepultar uma de suas netas, encontraram restos da esteira e algodão. Não havia caixão.

Outro Breves, o barão de Louriçal, Francisco de Assis Monteiro Breves, era solteiro e sem herdeiros forçados. Agindo como um cavalheiro, reconheceu a paternidade de diversos filhos com suas escravas.

Rico proprietário de uma próspera fazenda cafeeira em Mar de Espanha e de duas grandes propriedades agrícolas em Itaperuna (RJ), uma delas utilizadas para extração de madeiras, elaborou seu testamento em 1894, dispondo suas últimas vontades.

Nele registrou o relacionamento com algumas de suas ex-escravas e reconheceu a paternidade de determinados filhos delas. Alegou:

“Que por fraqueza humana teve com suas ex-escravas ..., diversos filhos, os quais existem e são os de nomes ..., os quais ele testador os reconhece como seus filhos como se fossem de legítimo matrimônio e os institui seus universais herdeiros.

 
 
     
 

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