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Tanto
em Bela Aliança, como em Laranjeiras, os
Haritoffs recebiam com igual elegância e
fidalguia. Quando em 1883 inauguraram os
salões de Laranjeiras, e começou a série
deliciosa dos "mardis de Mme. Haritoff", o
"Messager du Brésil", publicou larga
notícia: "une brésilienne doublée d'une
vraie parisiense, dont la grâce, l esprit
et la haute distinction ont reçu une
consécration solenelle dans les salons les
plus aristocratiques de la société
européene, vient d inaugurer ses mardis
dans le magnifique hôtel qu elle habite à
Laranjeiras".
Raramente,
mesmo nas capitais da Europa,
encontrar-se-iam reunidos numa casa tanto
conforto, luxo e bom gosto, e uma tão
perfeita cortesia, distinção e belas
maneiras aliadas a "ce je ne sais quoi, a
cette morbidesse, cette largueur pleine de
grâce et de charme qui est le
caracteristique de la beauté créole".
Chove o
jornalista elogios sobre Madame Haritoff,
à sua ggraça, amabilidade, sedução,
espírito cintilante. Ela representava um
completo exemplar da "grande-dame",
secundada pelo marido "ce russe si
français, parisien jusqu au bout des
ongles, at que, aprés avoir éte le type
acompli du parfait boulevardier, camarade
des Grammont Caderousse, Morny, Lima e
Silva, acompagna Gourko ou passage des
Balkans, s est fait simplesment
agriculteur sur cette terre bénie du
Brésil".
Com a
primeira e brilhante recepção iniciava-se
uma nova era nos costumes brasileiros: - "la
causerie intime réunissait en un seul
faisseau tou les invités qui s éfforçaient
de suivre la maitresse de maison dans el
tornoi oú son esprit billait comme un pur
diamant".
Era um
registro inaugural e foi um hino.
Não
desceram desse tom de entusiasmo
admirativo todos os que elogiaram Mme.
Haritoff e seu salão.
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Ao
Ministro argentino Vicente Quesada,
por exemplo, tudo ali pareceu belo,
grandioso, artístico, rico,
extraordinário. Os jardins - "extenso
parque boscoso" de grandes árvores,
quase ocultavam a vasta casa de
Laranjeiras (hoje escola Rodrigues
Alves) de larguíssimos salões,
ricamente decorados com objetos de
valor e de arte, pinturas, telas
porcelanas, que se mostravam aos
clarões de uma iluminação, distribuída
com refinado gôsto.
O olhar
do visitante tinha muito o que
admirar: além dos quadros e os grandes
jarrões de malaquita, os adornos da
gôndola da Imperatriz Maria Luísa,
quando se dirigiu à França, de veludo
carmesim com ornatos dourados, e a
coroa imperial de Napoleão bordada a
ouro em alto-relêvo; e, no extenso "fumoir",
na tela de Richter, que ainda podemos
contemplar no Museu Nacional de Belas
Artes, o retrato de Mme. Haritoff.
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Vicente
Quesada (1830 - 1913). Embaixador
argentino |
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Era um
autêntico palácio.
Quesada
recordava "comidas e fiestas", e, com
encantamento, um grandioso baile a que
assistira: orquestra numerosa e de
brilhante execução; o buffet dirigido por
um serviçal caracterizado à russa.
Um
cronista da época (1883) alude com igual
vigor de expressão àquele ambiente
requintadamente artístico e opulento - os
Vieux Saxes Vieux Sèvres sobre os móveis
de Boule - a dona de casa em grande
toillete, seguida de perto pelo marido a
ajudá-la como um maitre d'Hotel, e por
numerosos fâmulos encasacados.
Receber
com afabilidade era um dom especial de Mme.
Haritoff. Possuía o "talento, a graça de
pôr à vontade e a contento nos seus sal·es
todos os convidados. Com aquela
perspicácia das pessoas de escolha -
escrevia outro conquistado pela
amabilidade ("A Estação" - 15 de outubro
de 1883), - ela enxerga, como um lince,
através de tudo a vontade de cada um e
procura ser.
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