Hugo Delphim. O belo e Histórico Rio de Janeiro.
  A Fazenda da Cachoeira, o Casarão e a Freguesia de João Baptista do Arrozal - Piraí - RJ.
  12 abril 2021
A Fazenda da Cachoeira, o Casarão e a Freguesia de João Baptista do Arrozal - Piraí - RJ.
Data do início do século XVIII a construção da capela de São João Baptista, patrocinada por moradores das redondezas. Chegado o final deste século, o capitão-mór José de Souza Breves recebe uma sesmaria de meia légua na região, estabelecendo alí a Fazenda da Cachoeira, onde se encontrava um grande arrozal. Daí surgiu o nome Arrozal, que era o arrozal do capitão-mór.







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Em 1839 o curato de S. João Baptista do Arrozal é ereto em freguesia de mesmo nome, pertencente ao termo da Villa de Pirahy. Arrozal era a principal exportadora de café da região em sua época. Para comparação, no ano de 1860, São Baptista do Arrozal exportou 341.500 arrobas, contra 100.000 de São José dos Thomazes e 80.000 de Santana do Pirahy. A vizinha São João Marcos exportou 229.900 e Passa Três 152.900 arrobas. Nesta época em Arrozal, eram os maiores prudutores o Comendador Joaquim de Souza Breves, Comendador José de Souza Breves, Joaquim José Gonçalves de Moraes, Francisco José de Oliveira e o Barão de Piraí.
Por volta de 1836 é construído na região aquele que hoje é o chamado Casarão do Arrozal, de propriedade de Manoel de Souza Breves, depois comprado pelo Comendador José de Souza Breves, filho do capitão-mór José de Souza Breves e irmão do Comendador Joaquim de Souza Breves, o Rei do Café, maior cafeicultor de sua época e traficante de escravos.

Nesta mesma época a Fazenda da Cachoeira já era propriedade do Comendador José de Souza Breves, o filho. Consta em seu testamento que todas as terras da Fazenda da Cachoeira e suas benfeitorias deveriam ser divididas pelos escravos da fazenda, naquilo que pode ser considerada a primeira reforma agrária do Brasil. Cada família recebeu cerca de 14 mil metros quadrados para produção da lavoura. Eram as famílias de 98 escravos da fazenda.
Segue trecho do testamento:

"Deixou a sua fazenda Cachoeira, e benfeitorias, na freguesia do Arrozal, para nela residirem os referidos escravos, com a condição de não venderem as terras, e somente serem sucedidos enquanto a lei permitir a sucessão de pais a filhos..." (Gazeta de Notícias - 1879)

Apesar da proibição da venda, muitas famílias venderam suas terras devido a dificuldade e custos da lavoura. Das famílias que continuaram na região, a maioria produzia somente para subsistência, como mandioca, feijão, café, arroz e criação de gado. Essas famílias continuaram nas terras por muito tempo, através dos herdeiros, algumas até hoje.

Apesar de mais antiga, a igreja matriz local foi reconstruída no final do século XIX, sendo também o Comendador José de Souza Breves o principal benfeitor para tal, mesmo após a sua morte, como consta em antigo registro:
"...o senhor Comendador José de Souza Breves, legara em seu testamento a importância de 12:000$ para a construção da matriz; consta-me que alguns importantes fazendeiros do município do Pirahy promovem uma subscrição que, junta a quantia levada pelo benemérito José de Souza Breves, poderá elevar-se a importância de 20:000$..." (Annaes da Assembleias Legislativa Provincial - em 1881)

No cemitério local também se encontra uma histórica capelinha, mandada construir também pelo Comendador José de Souza Breves, conforme outro antigo relato:

"Uma obra digna de ser imitada - O comendador José de Souza Breves, grato a memória de sua muito amada esposa, D. Rita Clara de Moraes Breves, modelo de piedade e beneficência, falecida em 1868, mandou erigir sobre sua sepultura, que ao mesmo tempo servisse de jazigo perpétuo para si quando falecesse e para seus pais, já falecidos. Esta capela, devendo servir de jazigo perpétuo da família, é toda de cantaria, e até de cantaria ladrilhada..." (O Apóstolo - em 1870)
Nas imagens a seguir estão algumas das construções citadas na pesquisa. Arrozal é um local bem pacato e uma linda região!

Vale lembrar que São João Baptista do Arrozal nada tem a ver com São Sebastião do Arrozal, que foi destruída na construção da Represa de Ribeirão das Lages e suas ruínas se encontram submersas a cerca de 40 metros. Apesar de relativa proximidade e de serem contemporâneas, não se trata do mesmo local. Uma pertencia a Villa de Pirahy e a outra a de São João Marcos, depois chamada São João do Príncipe.
  *Texto, pesquisa e fotos recentes de Hugo Delphim, publicados na Página O Belo e Histórico Rio de Janeiro.
*Fontes de pesquisa: Registros antigos e jornais da época, como alguns já citados no texto
 
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