Hugo Delphim. O belo e Histórico Rio de Janeiro.
Você sabia que o Rei do Café foi fazendeiro em Paracambi / Itaguaí - RJ?
  25 de junho de 2021
Fazenda da Floresta, Itaguaí, RJ.




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Dando continuidade a postagem anterior, com objetivo de resgatar parte da história perdida desta região, hoje iremos falar sobre a Fazenda da Floresta, que pertenceu ao Comendador Joaquim Breves, o Rei do Café no Brasil Imperial.Senhor de muitas terras em Mangaratiba, São João Marcos, Rio Claro e Piraí, sendo o homem mais rico de seu tempo e que, segundo alguns autores, foi dono de cerca de sessenta fazendas e seis mil escravos, também foi fazendeiro no território que hoje pertence a Paracambi. Seu nome aparece em diversos registros da extinta Freguesia de São Pedro e São Paulo do Ribeirão das Lages, seja lista de eleitores, subscrições, no livro de registros de óbitos e batismo da freguesia e etc.

Contudo, nos mapas o Comendador Breves não aparece naquela região. Isso ocorre pelo fato dos mapas serem das décadas anteriores a aquisição da fazenda.Essa era a Fazenda da Floresta, presente no inventário do comendador e citada por diversos historiadores como sendo em Itaguaí. Esse fato se explica pois na época a Freguesia de São Pedro e São Paulo do Ribeirão das Lages pertencia a Vila de São Francisco Xavier do Itaguahy, cerca de um século antes de surgir Paracambi, sendo então importante cita-la no título desta publicação. Segue registro de 1873 que confirma ess a situação:"Representação dos moradores na freguezia de S. Pedro e S. Paulo, município de Itaguahy, lugar denominado Ribeirão das Lages Acima, immediações da Fazenda da Floresta, pedindo a creação de uma escola publica do sexo masculino nesse lugar..." (Annaes da Assembléa Legislativa)

A Fazenda da Floresta pertenceu primeiramente ao Comendador Nuno Eulálio da Silva Reis, que recebeu concessão de quatorze prazos e meio de terras pertencentes a Fazenda Imperial de Santa Cruz em 1822, ficando impressionantes 41 anos sem pagar foro. Quando o superintendente João Cruz Reis requereu o pagamento da dívida, foi logo demitido do cargo. Nuno conseguiu vender esses prazos de terras ao Desembargador Antonio Pereira Barreto Pedroso, mesmo sem autorização da Mordomia da Casa Imperial. Este aparece como "Barreto", vizinho ao Ribeirão das Lages em um mapa de 1858 (ver anexo).Em 1878, o desembargador Barreto Pedroso vende o domínio útil das terras ao Comendador Joaquim Breves, o Rei do Café. Como Antonio Pereira Barreto Pedroso também não pagou os foros, Breves foi inquirido pelo novo superintendente. Breves simplesmente desconversou através de uma correspondência que hoje está disponível no Arquivo Nacional, no Fundo Fazenda Nacional de Santa Cruz, Série Correspondências (Fonte: Algumas possibilidades de acumulação fora do mercado da elite imperial brasileira no século XIX, de Manoela Pedroza).

Como havia diversos outros poderosos na mesma situação, o superintendente preferiu passar o caso para seus superiores, não tendo maiores desdobramentos. Em 1862 havia uma lista com quinze foreiros "caloteiros" que nunca pagaram foro desde 1820, como os já citados, além de outros nomes como Francisco Ornelas Teles Barreto de Meneses, Comendador Francisco Pinto da Fonseca Teles, Comendador João Paulino de Azeredo e Castro e etc.Segue registro de 1857 onde aparece Antonio Pereira Barreto Pedroso como proprietário da fazenda:"Pelo vice-consulado portuguez desta villa, se faz publico que, no dia 15 de setembro proximo futuro, se hão de arrematar, ás portas do vice-consulado, umas benfeitorias de um sítio que deixára o finado subdito portuguez Antonio Vicente Corrêa de Barros, em terras pertencentes ao Exm. Sr. consenheiro Antonio Pereira Barreto Pedroso, na Fazenda da Floresta. Quem se julgar credor do mesmo finado haja de justificar suas dívidas, para serem attendidas em tempo competente. Itaguahy, 27 de agosto de 1857..." (Diário do Rio de Janeiro)Segue outro registro de 1857, sobre os colonos trazidos por Antonio Pereira Barreto Pedroso:"...é de nosso notar igualmente que o conselheiro Barreto Pedroso mandou vir da Suissa, por intermédio do consul geral do Brasil na Bélgica, uma porção de colonos, que pretende empregar nas lavouras da sua Fazenda da Floresta, situada no termo de Itaguahy, parochia de S. Pedro e S. Paulo" (A Patria)Agora um registro onde aparece o Comendador Breves como dono da Fazenda da Floresta.

Este registro é uma carta do administrador da fazenda, endereçada ao comendador, apenas 3 dias após a abolição da escravatura. Foi publicada no Jornal do Commercio em 1888 e o conteúdo é revelador:

"Ilmo. Sr. Comendador Joaquim José de Souza Breves.Fazenda da Floresta, 16 de maio de 1888.Certo das ordens de sua respeitável carta de 13 do andante mês respondo-a que, em presença de seus ex-escravos, foi lida e explicada as condições das vantagens que V.S.ª, lhes oferece, e do que eles disseram tomei nota que junto remeto-lhe, e juntamente a nota dos que já daqui saíram em número de 42. Veja que com tal acontecimento o prejuízo é inaudito: tem esta fazenda os milhos para quebrar, 40 alqueires de feijão sofrível para arrancar e que não se pode adiar a colheita... Com respeito e obediência, sou de V.Sª, afilhado, criado e obrigado - Eugênio de Souza Breves.

Depois que esta escrevi, vejo que até o café colhido será difícil acabar de secar para socar: os pretos querem já impor os serviços que hão de fazer, a hora e tudo mais que entendem - ESB" (Fonte: Hebe Maria Mattos de Castro - Anais da Biblioteca Nacional)Que maravilha! Mesmo com aparentes vantagens oferecidas para o trabalho, 42 escravizados já haviam ido embora da fazenda nos 3 primeiros dias após a abolição. Os que ficaram não se submetiam mais aos mandos e desmandos e as condições de trabalho. Consta que o comendador mandou até matar bois e "festejar" a liberdade dos escravizados, mas não surtiu efeito. Essa carta testifica a importância do 13 de maio! Como todas as fazendas do Comendador Joaquim Breves, a Fazenda da Floresta também entrou em colapso, acarretando prejuízos financeiros incalculáveis.

Logo veio a queda do seu império, o comendador não resistiu e foi fulminado no ano seguinte, falecendo na Fazenda de São Joaquim da Grama, em Rio Claro.O período posterior a este não será objeto desta pesquisa. Não se sabe por qual motivo, nos registros do século XX ela tem o "da" suprimido do nome, ficando Fazenda Floresta.Em anexo segue um raro registro de óbito de uma escrava do Comendador Joaquim Breves na Freguesia de São Pedro e São Paulo do Ribeirão das Lages.

Segue também imagens da fazenda na década de 50, quando a casa sede já parece ser uma construção do século XX. Além da localização da fazenda em mapas e imagem de satélite. Se localizava na subida da Serra das Araras, na localidade hoje chamada Monumento, tendo sido retalhada dando lugar a diversas residências e sítios.Por enquanto não se tem notícia e imagens do casarão sede do século XIX. Provavelmente já havia se arruinado. Mesmo assim não sobrou quase nada daquela região após a tragédia de 1967. Mas a pesquisa continua!
*Texto e pesquisa de autoria de Hugo Delphim Borges, publicados na Página O belo e histórico Rio de Janeiro.*As fontes de consulta se encontram citadas no próprio texto.*Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte ou a íntegra deste blogger, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, digitais, mecânicos, fotográficos, reprográficos, gravação ou quaisquer outros existentes ou que venham a existir, sem autorização prévia por escrito do autor.Texto, pesquisa e fotos recentes de Hugo Delphim, publicados na Página O Belo e Histórico Rio de Janeiro.
*Fontes de pesquisa: Registros antigos e jornais da época, como alguns já citados no texto
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