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Mário Breves Rodrigues Peixoto

O Limite do Cinema Nacional

 
Mário José Breves Rodrigues Peixoto – Mário Peixoto – nasceu, segundo ele mesmo, no dia 25 de março de 1908, mesmo dia e ano do nascimento do diretor que mais admirava: David Lean. Mário jamais foi preciso sobre o lugar de seu nascimento: às vezes dizia Bruxelas, às vezes, a Tijuca.

A extração social de Mário Peixoto era grande burguesa: descendia tanto pelo lado paterno – João Cornélio Rodrigues Peixoto – quanto materno – Carmem de Souza Breves – do Comendador Joaquim José de Souza Breves. Seus pais eram primos. O Comendador era o maio plantador de café do Império e também o mais ativo traficante de escravos de sua época. Era interlocutor do Imperador e senhor de todo o território que vai da Restinga de Marambaia até as fronteiras de São Paulo, litoral e interior. Mangaratiba, onde Limite foi realizado, era a capital marítima desse imenso império cafeeiro e escravista. (Saulo Pereira de Mello - Limite, Rocco, 1996)

 


Mário Peixoto

 
O tema do desespero

Ficha técnica

Ficha Técnica de Limite

Limite, Mangaratiba 1931; P&B; 120 minutos à cadência de 16 quadros por segundo. Produção, scenário, direção e montagem: Mário Peixoto. Fotografia e câmera: Edgard Brazil. Assistente Geral: Rui Costa. Ajudantes do local. Com Olga Breno (Alzira Alves): mulher no. 1; Taciana Rei (Yolanda Bernardi): mulher no. 2; Raul Shnoor: homem no. 1; D. G. Pedrera (Brutus Pedreira): homem no. 2; Mário Peixoto: o homem do cemitério; Carmen Santos: a prostituta do cais; Edgard Brazil: o espectador adormecido, com palito na boca; Rui costa: o espectador que esfrega do nariz: figurantes do local. Trilha musical organizada com discos comuns, 48 rotações, por Brutus Pedreira, peças de Satie, Debussy, Borodin, Ravel, Stravinski, César Frank e Prokofiev.

Saulo Pereira de Mellonascido no Rio Grande do Sul em 1933, estudou física e filosofia e escreve ocasionalmente sobre o cinema silencioso. Participou com Plínio Sussekind Rocha, seu professor na faculdade Nacional de Filosofia, da restauração de Limite. É autor de Limite, filme de Mário Peixoto.

 

 

 

 

 

 

Mansão do Morcego:


Está localizada na entrada da Enseada do Abraão, junto à Praia do Morcego, e é circundada por densa mata tropical.
Sua construção é retangular, com curvatura selada e telhado em 4 águas, que se aproximam nos quatro cantos dos beirais, como ornamento de tenda árabe.
Guarda um rico acervo, que incluem peças de mobiliário, louças, estátuas, e objetos de arte religiosa, reunidos por Mário Peixoto, seu antigo proprietário.
A lenda atribui a Juan Lorenzo, pirata espanhol, a construção da casa no inicio do século XVII, utilizando-se de madeira da região. Em 1942 foi tombada como patrimônio histórico.


Localização : Enseada do Abraão / Praia do Morcego - Abraão
Acesso : Por mar, saindo do cais Santa Luzia em Angra dos Reis ou na Vila do Abraão.
Visitação Turística : Trata-se de propriedade particular.

O Inútil de cada um
Autor:
Mário Peixoto
Editora: Sette Letras
156 págs.

Esta é a segunda edição da versão original do romance publicado em 1933, em edição particular. Naquela época, o pai do autor não teria gostado do modo como Mário o apresentava no livro: comprou toda a edição e queimou-a. Esta edição da Sette Letras foi feita a partir do único exemplar conhecido, encontrado entre os papéis de Mário Peixoto após a sua morte. O exemplar, bastante danificado - dentre outras coisas, o último parágrafo do romance está mutilado - estava todo anotado pelo autor: trabalho que, a partir de 1968, resultou no segundo "O Inútil de Cada Dia".
 

Arleu, Mário e Joaquim Breves

Ao folhear a revista "Veja", edição de 12 de fevereiro de 1992, deparei com a notícia de falecimento do cineasta Mário Breves Peixoto, em 02 de fevereiro de 1992, considerado por muitos como "o pai do Cinema Brasileiro". Minha surpresa foi maior verificar que na fotografia estampada na revista, aparece o cineasta tendo ao fundo não muito visível, dado as dimensões da foto publicada, o quadro a óleo do Comendador Joaquim José de Souza Breves.

Durante muito tempo procurei incansavelmente por esta e por outras telas representativas dos Breves mais antigos.

O rei do café - Comendador Joaquim José de Souza Breves

Com o endereço do cineasta, no início do mês de setembro de 1992, prosseguindo com minhas pesquisas sobre os Souza Breves, cheguei ao apartamento de Mário Breves Peixoto, onde fui muito bem recebido por seu afilhado Sr. Arleu.

Ao entrar naquele apartamento em Copacabana, logo no hall estava a tela do Comendador Joaquim Breves, sem a moldura, colocada em cima de um aparador .

O Sr. Arleu é uma pessoa muito afável, tendo 65 anos, mora com seu filho e nora no apartamento que foi de Mário Breves Peixoto. Deixando o hall de entrada dirigimo-nos para a sala principal, onde domina o ambiente uma tela de dimensões enormes, representando o cineasta ainda bastante jovem, com a moldura retirada da tela que estava no hall. Perguntando ao Sr. Arleu porque havia retirado a moldura do quadro do Comendador Joaquim Breves, ele me disse que o quadro precisava de restauração e a moldura ainda estava bastante bôa, apesar de já contar com mais de 160 anos (provavelmente foi pintada em 1829).

Ele me disse que a figura do Comendador Joaquim Breves representava muito para Mário Breves Peixoto, pois era um bem de família que deveria ser preservado. Entretanto, para Arleu a figura de maior importância, era a do próprio cineasta, por quem nutriu durante toda a vida grande carinho e admiração, e por isso tinha mandado pintar aquela tela, pagando um alto preço e usando a moldura do quadro de Joaquim Breves.

"Esta moldura, dizia-me, era toda em decapê em tons claros. Mandei envernizar pois não gostava do estilo."

A tela de Mário Peixoto foi pintada a partir de uma fotografia, que segundo Arleu, fôra tirada num dos inúmeros passeios que fizeram juntos. A pintora hábilmente, retratou-o sentado numa amurada de mármore, tendo ao fundo os jardins, com várias estátuas gregas, de seu sítio "O Morcêgo" na Ilha Grande.

O Sr. Arleu me contou diversas histórias sobre o cineasta:

"Mário foi um humanista, um artista incompreendido. Nunca foi lhe dado o devido valor."

Contou-me também que no início da doença, Mário foi obrigado a vender o sítio da Ilha Grande para poder honrar seus compromissos e se manter, uma vez que não possuía qualquer rendimento. Mário tinha investido uma fortuna considerável na reforma do "Morcêgo", estando o mesmo quando de sua venda repleto de obras de arte - mobiliário antigo, pratarias, telas, louças importadas - recebidas de herança, ou adquiridas posteriormente. Um membro da família Klabin é o atual dono desta riqueza.

Durante muitos anos, Mário Breves Peixoto ajudou com seu prestígio a cidade de Mangaratiba. Com certa mágoa, Arleu disse que fora montada uma Fundação em Mangaratiba que leva o seu nome. Funciona no solar do Sahy e presta um excelente trabalho, preservando um pouco daquele que foi durante décadas a mola propulsora de seu desenvolvimento – o Comendador Joaquim Breves.

"Estou passando todo o material que resta e pertencia a Mário, para o Walter (Walter Moreira Salles - do Unibanco), pois foi o único que acompanhou e prestou auxílio a Mário em sua desdita. Ele, Walter, ficou de montar uma sala, num prédio do Unibanco, que levaria o nome de Mário Breves Peixoto e reuniria todo o material de cinema, objetos pessoais e a extensa biblioteca, com volumes ainda inéditos de sua obra."

O Sr. Arleu relata que o cineasta havia retirado da Fazenda da Grama, em Passa-Três, várias telas, estátuas e algum mobiliário na tentativa de preservar o pouco que sobrara. A maior parte das telas, representando membros da família Breves, foram entregues ao Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ficando depositadas num porão daquela entidade por mais de 20 anos. Por pouco não se perdeu tudo. Mário foi avisado por um restaurador daquela entidade para que retirasse suas telas pois tudo estava se perdendo por falta de cuidados.

Arleu me disse que uma das telas, que representava uma Nossa Senhora com o Menino Jesus na mão, foi levada para a Ilha Grande, mas não era mais possível recuperá-la, pois a tinta estava se soltando, devido aos longos anos exposta à umidade. As outras telas foram doadas ou emprestadas para outras instituições.

Fizemos uma pequena pausa em nossa conversa para que eu pudesse fotografar ambas as telas. Notei que o retrato de Joaquim José de Souza encontra-se bastante deteriorado, atacado por fungos e cupins, e perfurada a tela em alguns pontos. Trata-se de uma tela pintada à óleo, sem data e assinatura, de mais ou menos 1,50 x 1,00 metros. Tirei algumas fotos da tela que se encontra na sala principal, e por causa da luminosidade, levamos a do Comendador para uma área externa para que pudéssemos fotografá-la melhor. Não sou profissional em fotografias, mas o resultado me pareceu bastante bom.

Retornando ao interior do apartamento, falamos também sobre o relacionamento da família com Mário:

..."Por seu comportamento esquisito, poucas vezes foi procurado. Uma vez seu irmão Octávio esteve com ele. Mário me apresentou dizendo mais tarde: ... é meu irmão porque temos o mesmo sangue. Vemo-nos de 20 em 20 anos.

Não achei estranho, esse comportamento "esquisito" relatado por Arleu, pois trata-se de uma característica comum aos Breves, isto é: o comportamento arredio e bizarro, chegando mesmo a extravagância, e a tendência ao isolamento. Continuando a relatar o Sr. Arleu :

"Mário foi um homem rico, de muitas posses. Quando sua avó, faleceu em Petrópolis, foi chamado para a partilha do palacete da Avenida Koeller. "

... não quero imóveis, pois para mim não tem valor nenhum. Me interesso apenas pelos objetos do interior da casa.

Foi lhe dado então a oportunidade de escolher o que quizesse.

Como afirma a revista, "Limite", rodado no início dos anos 30 em Mangaratiba, com roteiro, direção e montagem do próprio Mário, entrou para a história do cinema brasileiro como uma de suas maiores lendas. Com ambições filosóficas de traduzir em imagens o naufrágio da existência humana, Limite foi considerado uma obra de gênio, que poucos viram ou conseguiram entender. Sua cadência fúnebre, com composições rígidas e enquadramentos estáticos, atrairam a atenção dos críticos da década de 30, que o classificaram como a melhor contribuição brasileira para o vanguardismo internacional da época. Uma das mais famosas histórias sobre o filme dizia que, depois de assisti-lo em Londres, em 1931, o cineasta russo Sergei Eisenstein escreveu um artigo no qual se derramava em elogios. Mais tarde, trocando o cinema pela literatura Mário escreve "O Inútil de Cada Um", seu único livro, publicado em 1984, reúne segundo o autor, as idéias de Limite.

Arleu, disse-me que existem mais 5 volumes da obra " O Inútil de Cada Um", que Mário pedia que fossem publicados após sua morte. Esperamos que o Sr. Walter Moreira Salles se interesse pela publicação, visto que, encontra-se em suas mãos os originais.

Existem controvérsias sobre a data de nascimento de Mário Peixoto Breves. Dizem alguns que, teria nascido em 1908 em Bruxelas, mas há quem diga também, que teria nascido em 1918 no Rio de Janeiro. Pelo que pude apurar junto ao seu afilhado Arleu, Mário nasceu em Bruxelas em 1908, e juntamente com seu irmão Octávio, estudaram na Europa durante muitos anos, na  Inglaterra e Suíça.

Tenho que ressaltar a dedicação do Sr. Arleu no trato das coisas do cineasta. Sua idéia de preservar a obra cinematográfica e literária de seu padrinho é comovente. Esperamos, sinceramente que tenha êxito, pois aquele que foi considerado como "Pai do Cinema Brasileiro", merece ser eternizado na memória do Estado do Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro, Setembro de 1992. (O autor)

Fundação Mário Peixoto

sahy.jpg (15848 bytes) Fundação Mário Peixoto

Em Mangaratiba, RJ, funciona no solar do Sahy.

 

 

 

 

 

 

 

 
 

 

 

 

     

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