Os Monteiro de Barros

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  Dona Cecília Breves de Moraes Monteiro de Barros  
 
 
  D. Cecília Breves de Moraes Monteiro de Barros e sua fazenda dos Três Poços.  
     
 

Cecília Breves de Moraes - Monteiro de Barros, era filha dos barões do Piraí, José Gonçalves de Moraes e Cecília Pimenta de Almeida Frazão de Souza Breves. Neta do capitão-mór José de Souza Breves e sobrinha do rei do café, Joaquim Breves. Nasceu em Piraí, RJ, em 2 de fevereiro de 1820, na fazenda Manga Larga, em Arrozal, e faleceu em 29 de junho de 1918. Sobreviveu ao marido cerca de 56 anos, deixando numerosa descendência: 20 netos, 38 bisnetos e 6 tretanetos. Com avançada idade, residiu na Rua São Joaquim, 146 no Rio de Janeiro.

Foram inúmeras suas obras assistenciais em benefício dos necessitados, destacando-se a Escola Doméstica para meninas, também chamada de Asilo de Orfãs, em Barra Mansa, RJ.

Em 1860, o escritor português Augusto Emilio Zaluar, durante sua viagem pela província do Rio de Janeiro, visitou a grande Fazenda dos Três Poços, no município de Barra Mansa, na Freguesia de São Sebastião:

Zaluar em visita à sua fazenda, almoçou com ele (o comendador Lucas Antônio Monteiro de Barros), o que lhe valeu algumas horas muito agradáveis em companhia de tão distinto cavalheiro. Sua esposa Dona Cecília Breves de Moraes, era filha dos Barões de Piraí, sendo portanto, concunhado do Barão de Vargem Alegre e dos irmãos Comendadores Souza Breves - José e Joaquim. Estas ligações de família propiciavam a enormes confusões, mas, no entanto, eram muito comuns nos idos de 1800. Os Souza Breves, Gonçalves de Moraes, Oliveira Roxo, Monteiro de Barros, Oliveira Belo e Lima e Silva - formavam uma grande casta, e uma só família de potentados do café.

Mas voltando a falar de Três Poços. Esta fazenda de enorme importância foi legada aos monges trapistas da Abadia de Sept Fonds, então localizados em Tremembé, com grandes culturas de arroz.

Zaluar comenta assim sua viagem:

"A Fazenda dos Três Poços, que assim se denomina esta grande propriedade rural, é também uma das mais importantes deste município e está aprazivelmente assentada à margem esquerda do rio Paraíba.

A casa de construção regular é elegante e espaçosa e merece especial menção entre as habitações de gosto dos nossos fazendeiros. A grande extensão do terreno e o muito café que produz dão a esta fazenda um valor sólido e real.

Pela estatística do tempo, a média de produção de café de Três Poços, era de 22.000 arrôbas de café anuais, produção muito elevada, a maior de todo o município de Barra Mansa.

Os viajantes da Central do Brasil podem ter a exata noção da importância desta fazenda, quando entre Pinheiro e Volta Redonda, lhes aparecem as vultosas benfeitorias situadas em lindo cenário e numa larga várzea ribeirinha do Paraíba.

A casa grande, enorme e cheia de salas e quartos, e onde se nota a bela capela, apresenta singularidade curiosa: está ligada por uma espécie de passadiço, ou ponte, a uma segunda casa também muito grande.

Visitamos Três Poços em companhia do Procurador Geral dos Trapistas, o Reverendo Padre José R. Bouillon, e pudemos então conhecer uma das mais importantes fazendas contemporâneas do esplendor fluminense. A casa de enfermaria dos escravos, sobrado de dimensões absolutamente fora do comum, compreendia enormes cômodos. O antigo engenho de café igualmente testemunhava a importância dessa propriedade de cujo solo fertilíssimo provieram colheitas convertidas em milhares e milhares de contos de réis.

Enormes almanjarras obsoletas, de vários tipos; ancestrais venerandas das máquinas beneficiadoras modernas de café, atravancavam-no; desde muito imobilizadas e recobertas de espessa camada de pó. Por sobre uma delas, espreguiçada num montante de colossal esquadria de madeira de lei, vadiava grossa caninana.

Prudentemente bateu em retirada aos nos ver entrar, naturalmente indignada com a perturbação da sesta volupica e modorrenta de um meio-dia abafadiço, naquele ambiente tão silencioso e outrora tão movimentado... Era como que o símbolo vivo da decadência e da miséria da lavoura cafeeira no vale sustentáculo do Brasil Imperial.

Ainda vimos, nas salas e quartos da fazenda da varanda doadora, perfeita encarnação do tipo feminino superior, criado pela velha formação brasileira, numerosos espécimes dos mais valiosos de nossa arte de antanho.

Zaluar, refere-se à figura de Dona Cecília Breves de Moraes, mulher de rara fibra, traço comum no lado feminino da estirpe dos Breves; a cuidadosa manutenção da grande Fazenda dos Três Poços, quando da morte de seu marido, o Comendador Lucas Antônio Monteiro de Barros, ainda muito moço.

Dona Cecília Breves de Moraes, faleceu quase centenária, deixando em testamento toda sua fortuna e a Fazenda aos monges trapistas da Abadia de Sept Fonds.

A excursão à Três Poços valeu às coleções do Museu Paulista, por intermédio da generosa doação do Reverendo Padre Bouillon, três espécimes da nossa há muito extinta arte plumária, hoje notavelmente raros, senão raríssimos: quatro ingênuos quadros, de fins da era setecentista, ou de princípios do século XIX, simbolizando a Europa, Ásia, África e América. Três destes quadros chegaram ilesos ao Museu Paulista do Ipiranga, mas o quarto quadro representando a Europa, transformou-se em estilhaços num desastre de um trem cargueiro da Central do Brasil.

 
  Fontes:

TAUNAY, A. de E. História do café no Brasil: no Brasil Imperial 1822-1872. Rio de Janeiro, Departamento Nacional do Café, 1939.

ZALUAR, Augusto Emilio. Peregrinações pela província de São Paulo (1860-1861)

CAVALCANTI, J.C. “Nova numeração dos prédios da cidade do Rio de Janeiro” editado em 1876

Fazenda dos Três Poços, do Café à Universidade”,  textos de Heloísa Helena Monteiro de Barros, João Hermes Pereira de Araújo, Flavia Lages de Castro e Roberto Guião de Souza Lima

 
 

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