O jongo ou o caxambu, como também é
conhecido, pode ter vindo da região de Angola, trazido pelos
negros que vieram forçados a trabalhar nas fazendas cafeeiras da
região centro-sul do Brasil. O local exato ninguém sabe dizer ao
certo, cidades que se tem noticias das primeiras manifestações
de jongo estão entre os estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio
de Janeiro Os negros de Angola já tinham tradicionalmente as
danças de umbigada, muito comuns na região Congo-Angola, uma das
mais conhecidas é o semba, que, em dialeto quimbundo, significa
umbigada.
A umbigada é uma característica do Jongo, e também se faz no
semba, no samba-de-roda, no tambor-de-crioula, no lundu, na
pernada, no batuque, no coco e em outras danças que
provavelmente podem ter sido trazidas e/ou transformadas aqui
pelos escravos angolanos.
Roda de jongo em Pinheiral, RJ.
Os escravos, na maioria das vezes,
reuniam-se nas noites de festa dos santos católicos,
provavelmente pelo fato de, na mesma data, os senhores seus
participarem de festejos em igrejas.
No jongo, apenas aos mais velhos era dado o direito à
participação, pois os jongueiros disputavam sabedoria através
dos cantos e/ou pontos, usando para isso uma linguagem cifrada
(gíria), para dificultar o desvendar do ponto.
Hoje em dia essa tradição vem sendo quebrada aos poucos para que
não acabe essa cultura, e tem um ponto que diz assim "... saravá
jongueiro velho que veio pra ensinar, que Deus de proteção a
jongueiro novo pro jongo não se acabar..."
Os pontos do jongo são dividos em pontos de abertura, de
louvação, de visaria, de demanda ou gurumenta, de enredo, jongo
canção e ponto de despedida.
Nos terreiros, como é chamado o espaço onde acontece a roda,
acendia-se uma fogueira, que servia para esquentar os
jongueiros, esquentar o couro dos tambores quando ficavam roucos
e também para assar batatas e amendoim.
Roda de Jongo em Arrozal, RJ.
As letras dos cantos ou pontos de jongo relatam principalmente o
cotidiano desse povo. Usam, para começar o jongo, ponto de
abertura, saudando em geral o santo do dia e outras entidades;
em continuidade, o cantador segue louvando o lugar, os
jongueiros antepassados, o anfitrião (trata-se do jongueiro mais
velho do lugar, geralmente o mais sábio também) e a todos que
ali se encontram. No decorrer da noite, os jongueiros entoam
cantos para alegrar e descontrair as pessoas, mas, de vez em
vez, um deles manda um ponto a ser decifrado e os demais vão
repetindo o canto até que algum jongueiro decifre e desate o
ponto.
Os tambores do jongo de Arrozal,
RJ.
Em outros casos, acontecia também o
momento de encante, magia ou feitiço que algum jongueiro lançava
sobre outro a quem ele queria enfeitiçar. Muitos contam que, se
o jongueiro enfeitiçado não decifrasse o ponto, ele poderia
desmaiar, passar mal ou até mesmo morrer; contam também que
plantavam bananeiras que, ainda na mesma noite, dava fruto e
alimentava aos jongueiros dali.
Ao final da roda de jongo, quando o dia ia amanhecendo,
despediam-se uns dos outros e também saudavam a chegada do novo
dia, e retornavam a sua jornada de trabalho escravo nas fazendas
de café.
Nota
O tambor do jongo é diferente do nosso conhecido. É feito com um
décimo de barril de pinga, medindo mais ou menos 1 metro de
altura, por 1 palmo e meio de largura. Conserva o fundo de
madeira; a extremidade superior é coberta com pele de gado. Às
vezes a pele de gado é substituída por pele de porco do mato, ou
de tamanduá.
O executante bate com as duas mãos sobre o tambor, cujo fundo
repousa no chão.
A puita é deitada no chão, com a frente (a pele) para a dança.
O executante (maquinista, era chamado) fica de joelhos no chão,
com a abertura dela junto às pernas. Junto dele uma vasilha com
água.
Aí começa a execução. Com a mão molhada, aperta a cana, e
escorrega a mão fechada sobre ela de junto da pele para a
abertura do tambor. Enquanto uma das mãos faz o perrcurso, a
outra está se molhando, e em seguida repete o que a outra
fizera.
O contato da mão molhada, que escorrega sobre o bambu, que por
sua vez está fixado junto à pele, produz uma vibração rouca, uma
espécie de ronco ritmado pela habilidade do executante.
Os tambores utilizados normalmente são dois, um grande (chamado
tambu, caxambu, angoma, papai etc.), outro menor (chamado
candongueiro, mancadô etc.). Há também a puíta (uma espécie de
cuíca muito grande que se toca sentado) e um chocalho (conhecido
por vários nomes: guaiá, inguaiá, angoiá, anguaiá). O
jongo possui um caráter místico: através das rodas os
participantes reverenciavam as "almas" dos seus antepassados. |