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Quilombolas de Santa Rita do Bracuhy

O legado de José Breves

Caminho do Bracuí


A comunidade Santa Rita do Bracuí localiza-se no município de Angra dos Reis e atualmente é reconhecida oficialmente como remanescente de quilombo, nos termos do artigo 68 da Constituição Federal.

Nos idos do século XIX, a fazenda Santa Rita do Bracuí pertenceu ao Comendador José Joaquim de Souza Breves, irmão do maior cafeicultor do Brasil nos oitocentos, Joaquim de Souza Breves. Os indícios indicam que a fazenda funcionava como porto de recepção de africanos novos, inclusive no período ilegal do tráfico, e produzia cachaça para moeda de troca no comércio negreiro. Com a morte do comendador José Breves, a fazenda é legada aos seus escravos, descritos nominalmente no seu testamento. Após muitas lutas, pela manutenção dos direitos legados pelo comendador, a comunidade de Santa Rita se reestrutura através de sua história e da reconstrução das suas tradições, reafirmando o direito à terra e resignificando antigas tradições culturais.


Estivemos em Santa Rita do Bracuí entre os dias 27 e 28 de Outubro de 2006, por conta de uma festa na comunidade em comemoração ao prêmio “Cultura Viva”, oferecido pelo Minc. O material produzido conta com diversas entrevistas que sintetizam uma parcela significativa da história da comunidade do Bracui. No primeiro dia de trabalho conversamos com D. Joana, cerca de 94 anos, parteira da comunidade e descendente de um administrador da fazenda no tempo da escravidão. D Joana nos revelou importantes referências para futuras entrevistas. Posteriormente, neste mesmo dia, conversamos com o Sr. Manoel Moraes e Sr. José Adriano. O Sr. Manoel Moraes nos presenteou com o relato sobre muitas manifestações musicais da época da sua infância, como o Calango, o Jongo e o Cateretê. No decorrer da entrevista, Sr. Manoel falou de seus bisavós, que receberam as terras de Santa Rita com a morte do Comendador Breves. A última entrevista do dia foi com José Adriano, tido como grande jongueiro entre os moradores do Bracuí. S. José nos revelou interessantes histórias da época da escravidão, além de se referir ao Jongo algumas vezes como uma “diversão” da comunidade ao longo da sua história.
No dia 28 de outubro se iniciou a bela festa da comunidade do Bracuí. Durante a festa, que se estendeu por todo dia, conversamos com Sr. Geraldo Romão que nos apresentou a uma parcela significativa da comunidade. Levou-nos a um antigo engenho da fazenda do Bracuí e nos contou sobre a sua família e sua origem africana. Sr. Geraldo também é um dos herdeiros do legado deixado pelo comendador Breves aos seus escravos. Conversamos também com Antonio Seixas, Marilda de Souza, e com a família Romão. A família dos Seixas é conhecida na comunidade como descendentes dos “Cabindas”, escravos da antiga fazenda de Santa Rita. A partir da entrevista genealógica, conseguimos localizar os “Cabindas”, herdeiros das terras do Bracuí, nas histórias familiares da família Seixas. A entrevista com Marilda de Souza também se mostrou significativa, na medida em que na sua história familiar o Jongo e o Calango se entrelaçam com as lembranças de sua mãe. Pelo lado paterno, Marilda lembra também das histórias do tempo do cativeiro transmitidas pelos seus avós, e passadas ao seu pai, que segundo ela gostava muito de contar histórias.

Por último conversamos com a família Romão: Ondina, Olga e novamente com Geraldo. Nessa conversa coletiva foram ratificadas algumas histórias e desvendadas outras, principalmente as que se referiam ao tempo “áureo” do Jongo e do Calango. Ao cair da noite, a equipe documentou a apresentação do Jongo do Bracuí e, em local mais afastado do centro da festa, registrou uma roda de sanfona - era o calango.

Extraído de http://www.historia.uff.br/jongos/ - Projeto Jongos, Calangos e Folias: Memória e Música Negra em comunidades rurais do Rio de Janeiro - desenvolvido pela  Universidade Federal Fluminense, através do Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI/UFF) e do Núcleo de Pesquisa em História Cultural (NUPEHC/UFF), com o apoio do Edital Petrobrás Cultural/2005.


 

Notícias de Bracuí - Imagens restauradas (22/05/2006)


Prefeitura entrega imagens restauradas de Santa Rita e Nossa Senhora Conceição para comunidade do Brachuy. 

As imagens do Século XVIII em madeira policromada, de Santa Rita e de Nossa Senhora da Conceição voltaram, totalmente restauradas, ao altar da capela de suas origens, no Brachuy, durante a tradicional Festa em homenagem à Santa Rita que reuniu a comunidade em procissão, missas e quermesses, no dia 21 de maio.

As imagens foram restauradas, neste ano, pela Prefeitura de Angra, através da Secretaria de Cultura, Esportes e Eventos e foram entregues à comunidade religiosa do Brachuy, oficialmente pelo Secretário de Integração Governamental, Bento Pousa Costa, durante a missa solene da noite de domingo.Também participaram da entrega a subsecretaria de Secretaria de Cultura, Maria Helena Uruahy; o gerente de Patrimônio; Alonso de Oliveira e o restaurador, Gilson da Silva Andrade. A museóloga, Maria Emília de Mattos, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, também marcou presença.

Por serem peças sacras de grande valores religioso, histórico e econômico, elas não podem ficar definitivamente na Igreja de Santa Rita. Após as celebrações religiosas, da noite de domingo, 21, ela retornou ao Museu de Arte Sacra, onde ficará guardada e exposta à visitação. O mesmo acontece com as demais imagens que se encontram no Museu. Por serem únicas e valiosas, elas só podem sair do Museu para participar das festas que são feitas em suas homenagens, e depois retornam para serem conservadas com o devido zelo. Essa, segundo a museóloga Maria Emília Mattos é uma característica importante de Angra, que se difere das cidades do Brasil que têm museus de artes sacras. Nos demais museus, as imagens não podem nem sair em época alguma do ano.

Capela de Santa Rita do Bracuí

Santa Rita e Nossa Senhora da Conceição são importantes tesouros para comunidade do Brachuy, que é composta principalmente de remanescentes quilombolas. A capela, onde hoje foi erguida a igreja, foi feita para Santa Rita, em 1879, uma homenagem do antigo proprietário da Fazenda que funcionava no local, José de Souza Breves, para a esposa que se chamava Rita. E desde essa época é feita a tradicional festa em homenagem à Santa Rita, considerada a Santa das causas impossíveis.

O casal José e Rita Breves.

As imagens antes de serem restauradas, estavam guardadas em uma casa de uma moradora local, porque no altar da igreja estavam sendo alvos perfeitos para ladrões de artes sacras. Por diversas vezes sofreram tentativas de roubo.

No ato da entrega das imagens, o secretário Bento Pousa Costa falou sobre a importância do trabalho hoje desenvolvido pela Prefeitura de Angra em relação à preservação cultural e religiosa de patrimônios e enalteceu o papel das comunidades envolvidas.

- A restauração de imagens, de igrejas e outros simbolismos cristãos, salva a memória de nossa cidade, que é rica culturalmente neste aspecto. Por isso, o Prefeito Fernando Jordão não mede esforços em investir nessa área. Estou orgulhoso de estar nessa comunidade, em nome do Prefeito, entregando essas imagens, sabendo principalmente, que só foi possível restaurá-las porque antes foram guardadas como peças preciosas por todos vocês,- afirmou Bento.

 

 

 

 

     

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