Depois da
fundação do império otomano, a França, ciosa da conservação de suas boas
relações com o Oriente, tratou de reatar com as diferentes etnias que viviam sob
sua guarda, o respeito e a manutenção de seus costumes e sobretudo sua cultura.
O rei Henrique IV, portanto, chama Savary de
Brèves a Paris que havia desempenhado sua missão em Constantinopla, onde havia
passado 22 anos. O rei de França consente que seu intelectual, conhecedor dos
usos e costumes do Oriente e da história de suas populações,
seja seu representante em Roma. Êle mesmo autoriza a missão de estabelecer
sólidas relações com, uma parte, da Igreja Católica e, outra parte, com os
linguistas e exegetas orientais, antigos alunos do Colégio Maronita de Roma
cujos renomados sábios e eruditos irão agora franquear novas fronteiras.
Savary de Brèves leva sua missão à perfeição, uma
vez que grande parte dos alunos do Colégio passam pelo caminho de Paris e
participam do enriquecimento dos primeiros institutos de estudos de línguas e
das civilizações Orientais na capital francesa. É assim que Gabriel Sionita,
Jean Hesronita et Abraham Hecchellensis, se aplicam, estudam e se fazem
conhecer, ensinando sírio, hebreu e árabe.
Através dessa medida implantada por Savary, a
França e sobretudo Paris, conhece a partir de agora um pouco da riqueza do
Orientalismo que remonta ao século XIII. Mas, certamente, a ciência e o estudo
oriental, toma um caráter oficial, quando no início do século XVI, François
Primeiro funda em 1530 o Colégio Real, que passa a ensinar grego e hebreu.
Em 1536, sob a égide de Suleiman o Magnífico, o
embaixador da França, Jean de la Forêt negocia um tratado entre seu país e o
Império Otomano, tratado este que a Turquia se engaja e garante a França certos
privilégios de natureza política e econômica.
Suleiman - O magnífico
Com o Tratado começam o Regime das Capitulações.
São autorizados: a estabilidade dos mercadores franceses nos territórios
controlados por Istambul, a garantia de liberdade individual e religiosa. Os
consules da França passam a ter juridisção nos negócios civis e criminais dos
cidadãos franceses em território otomano, utilizando as leis de seu país em
conjunto com o direito de apelação dos magistrados do sultão. Com isso a França,
em 1583, sela a proteção de todos os europeus residentes na Turquia.
Em 1583, a Inglaterra reclama e obtém sua primeira
Capitulação, e o direito de proteção dos indivíduos de
outras nações. Mas somente com o regime de Ahmed Primeiro, as cláusulas de
Capitulação de 1536 foram confirmadas de fato, em face do prestígio da França.
Em 1539, Guilhaume Postel (1505-1581) foi admitido
como professor do Colégio Real. Postel e considerado como o primeiro
orientalista da Renascença. Chega em Istambul acompanhado de Jean de la Fõret, a
quem confir o ensinamento de grego, hebreu e árabe. Utilizam a primeira
gramática árabe da França e um tratado detalhado com uma dezena de alfabetos
orientais.
Um
Orientalismo mais humano
Em 1542, Postel cai em desgraça junto ao rei e os
ensinamentos de árabe param no Colégio Real. Ele retorna ‘as graças reais com
Henrique III.
A diplomacia francesa se vale estritamente da
aplicação das Capitulações na preservação de seus interesses. A interpretação
das línguas orientais suscita um estudo mais aprofundado das civilizações e das
pessoas que a praticavam.
Os jesuítas foram pioneiros do Orientalismo mais
humanista. Eles se instalaram na décima metade do século XVI em Constantinopla e
serviram como base de várias missões fundadas na primeira
metade do século XVII, em Alep, Damas, Tripoli, Saida e Aintoura.
Neste século o Orientalismo se estrutura e se
especializa: um orientalismo religioso, cultural e político.
A Igreja da França situada entre a Reforma e a
Renascença se interessa mais e mais pelo estudo da Bíblia e das Igrejas do
Oriente. E é principalmente por esta razão que Savary de Brèves, retorna em 1605
da Turquia, e lhe é confiada em 1608 a Embaixada de Roma. Ele funda uma editora
e gráfica (Tipografia Savariana), para edição de livros religiosos a serem
usados por cristãos do Oriente. Chamado a Paris em 1616, ele leva em sua bagagem
sua tipografia, e se faz acompanhar de dois sábios maronitas, Gabriel Sionita e
Jean Hesronita, antigos alunos do Colégio de Roma. Eles levam a cargo a edição
da famosa Bíblia Poliglota.
Com efeito, o papa Grégoire XIII funda em 1584 o
Colégio Maronita de Roma, e usa os jovens seminaristas maronitas. Os diplomas
desse colégio espalharam-se pela Europa, Roma, Paris, Bolonha, Ravenne, Florence,
Salamanque, Lisboa, Escorial e Madrid. Eles foram tradutores e intérpretes de
reis e príncipes, e se ocuparam das cadeiras de línguas orientais nas grandes
universidades. Seus nomes foram gravados na entrada do Colégio da França como
grandes educadores que foram.
A
Bíblia Poliglota
Sem dúvida foi a mais importante contribuição de
Gabriel Sionita, Jean Hesronita e Abraham Hecchellensis que trabalharam durante
vários anos em sua elaboração. Terminada e publicada em 1645 em sete línguas:
árabe, sírio, caldeu, hebreu, samaritano, grego e latin.
Joseph Semaan as-Semaani publica sua Bibliotheca
Orientalis, que é um resumo dos manuscritos orientais conservado na Biblioteca
do Vaticano.
Podemos citar também alguns dos mais importantes
sábios maronitas:
Nasrallah Chalac el-Aqouri (Vittorio Scialac
Accurensis 1635), professor de árabe e sírio na Sapientia de Rome e diretor de
uma importante impressora árabe. Ele doou toda sua fortuna para fundar o Colégio
Maronita de Ravenne.
Youhanna Fahd el-Hasrouny (Joannes Leopardus 1632)
– introdutor do calendário gregoriano na Igreja Maronita em 1606 e autor de uma
gramática síria, e uma tradução parcial da obra de Santo Tomás de Aquino.
Ishaq ach Chadraoui (Issac Sciadern, morto em
1663) – arcepisbo de Tripoli, contemporaneio e amigo de Fakhreddine II O Grande.
Ele se especializa nos ritos caldeus e traduz em latim a obra dos seus exegetas
e pensadores.
Merhej, filho de Nairoun el-Bâni (Faustus Nairon
Albanensis 1711) – professor de língua síria na Sapientia de Rome e autor de um
premiado tratado em latim sobre o cafeeiro e os benefícios do café.
As causas culturais do orientalismo foram
sobretudo responsáveis pelo enriquecimento das bibliotecas nacionais e dos
museus, com os manuscritos e as antiguidades orientais. Os
reis e seus ministros de Negócios Estrangeiros confiaram esta tarefa a seus
embaixadores na Sublime Porta, como também seus consules nas diferentes cidades
do Oriente. Seus sábios e estudiosos estudaram tais objetos in loco.
Quanto as causas políticas elas estão presentes
nas várias relações entabuladas com o Império Otomano e iniciadas por François I
e continuada por seus sucessores, Henrique IV, Louis XIII e Louis XIV.
Entre 1670 e 1673 sob o reinado de Mohammed IV
(1648 – 1687), Louis XIV sente a necessidade de renovar as Capitulações sobre a
Porta. Para esta difícil missão incumbe o Marques de Nointel, que após 3 anos de
muitos esforços, termina seu trabalho em junho e 1673.
Enfim, mencionamos o projeto de invasão do Egito,
sugerido por Leibniz a Louis XIV em 1672. Louis XIV responde através de seu
secretário de Estado, Arnaud de Pomponne:
"Je n’ai rien contre le plan d’une guerre sainte,
mais de tels plans, vous le savez, ont cessé, depuis le temps de Saint-Louis, d’être
à la mode".
Extraído de História - A Renascença Francesa e
o Despertar do Líbano , de Par Hareth BOUSTANY, publicado no L´Orient le Jour –
Líbano – 18/10/2001.
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