Em 1605
Vicente viaja para Bordeaux para tratar de um assunto "cuja temeridade e sigilo
não lhe permite falar". Seus biógrafos dizem que ele estava para conseguir uma
paróquia através do Duque de Epernon, do castelo de Cadillac, próximo a Bordeaux,
sendo o mesmo chefe efetivo do governo de Aquitania.
De volta a Bordeax toma conhecimento que uma
mulher de Toulouse lhe havia deixado uma herança e 1200 libras. Se dirige para
Castres onde ficava a Camara bipartite, composta de juizes católicos e
protestantes, para conseguir um mandato de execução e posse da herança. Nada
conseguindo, e sendo informado que teria que ir a Marseille, retorna por mar, em
princípio uma volta mais rápida e segura. Vai de barco até Narbona em 22 de
julho, data da realizção das festas de Beaucaire e do Ródano. Entretanto, três
bergantins corsários turcos esperavam para assaltar a todos que voltavam das
festas.
O barco em que Vicente viajava é assaltado e seu
piloto é despedaçado pelos turcos, e na luta Vicente recebe uma flechada na
perna, e depois de serem roubados, marcham presos para Túnis, onde chegaram ao
cabo de sete a oito dias.
Vicente é levado ao mercado de escravos em Túnis e
é vendido a um pescador. Em Setembro, depois de um mês com o pescador, e com
muito pouco proveito para seu amo, pois Vicente não era marinheiro, foi vendido
a um médico-alquimista, com quem aprendeu muitas coisas, próprias do ofício, e
com quem permaneceu até Junho de 1606.
Em 20 de maio de 1606, o embaixador da França em
Constantinopla, François Savary de Brèves, acerta um tratado com o Sultão, que
inclue a liberação de escravos entre os dois países. Acmet I - Sultão de
Constantinopla, chama à sua corte o famoso sábio alquimista que tem que deixar
Vicente com seu sobrinho. Vicente está entre os bens que o alquimista deixa com
o sobrinho, que tem idéias antropomorfistas sobre Deus. O velho sábio morreu no
caminho, sem poder chegar a Constantinopla.
Em 17 de junho chega a Túnis o embaixador François
Savary de Brèves com o firme propósito de fazer cumprir o Tratado entre a França
e Constantinopla. Ante a esses rumores, o amo de Vicente acabo por vendê-lo a um
agricultor das montanhas que se chamava Guillermo Gautier, que havia nascido em
Niza - Annecy, tinha sido franciscano e feito também escravo pelos turcos.
Renegou o catolicismo para se libertar. Naquele momento tinha três mulheres e um
campo para cultivar. Vicente trabalhou com ele e ganhou a simpatia de suas
mulheres, e foi decisivo na consciência do renegado, para sua libertação através
de orações a Virgem Maria.
Em Junho de 1607 Vicente e o renegado Guillermo
escapam de Túnis em um esquife e chegam ao porto de Aigues_Mortes. Imediatamente
partem para Avignon e se apresentam ao Vice-legado Pedro Francisco Montorio.
Guillermo faz a abjuração na Igreja de São Pedro e
o Vice-legado faz amizade com os fugitivos e se preocupa com eles. Guillermo
entra para a casa do Irmão de São João de Deus em Roma, na "Fate bebe Fratelli"
situada na ilha Tiberina, para fazer penitência.
Vicente escreve ao seu incondicional protetor em
Dax, o Sr. De Comet, para que mande buscá-lo e envie os Certificados de
Ordenação e seus Títulos Universitários, como primeiro passo para conseguir um
benefício para que ele consiga viver.
Nesse período, entretanto, Vicente vive à custa do
Sr. Montorio.
Em Novembro chega a Avignon um novo Vice-Legado.
Saem os três para Roma e Montorio, aficcionado das ciências havia encontrado em
Vicente "um monte de ouro", pois Vicente tinha sido aluno do famoso médico
alquimista. Vão residir num palácio em Roma, na calle que leva o nome de
Montorio. Guillhermo ingressa no Hospital "Fate bene Fratelli".
Em suas cartas Vicente escreve: "Deus manteve
sempre em mim uma esperança de ser libertado da escravidão, graças as assíduas
orações dirigidas a Virgem Maria, e por cuja intercessão eu creio firmemente
haver sido liberado."
Em 1608 Vicente está em Roma na casa de Montorio.
Passa o tempo estudando e conhecendo o funcionamento das Confradias da Caridade,
do Hospital do Santo Espírito e da Paróquia de São Lourenço de Dámaso, modelos
que um dia aproveitará, e espera que lhe mandem os títulos que necessita. Por
outro lado, segue ensinando ao seu protetor as muitas curiosidades que aprendeu
com o Alquimista. Montorio se serve delas diante do Papa e dos Cardeais, e fica
zeloso quando Vicente intenta ensiná-las a outras pessoas.
Nesse ínterim, a ex-rainha Margot constrói uma
capela junto aos jardins de seu palácio na margem do Sena.
No fim do ano, Vicente sai de Roma rumo a Paris.
Os biógrafos apontam que ele estava com uma embaixada, uma missão secreta. O
certo é que não se sabe da parte de quem: do embaixador Savary de Brèves, do
auditor da Rota, Marquemont, duque de Nevers?, e nem sabemos para quem: Henrique
IV ? , nem sabemos também o objetivo de tal missão: Assunto de Veneza e do Papa
?
Ao chegar em Paris se hospeda no bairro de Saint
Germain, onde habitam muitos gascões, e compartilha habitação com Beltrán Dulou
e Juarez de Soré, um gascão como ele.
Em dezembro, Richelieu marcha para sua diocese de
Lucon, de uns 3.000 habitantes.
Em 17 de fevereiro de 1610 escre à sua mãe: "Penso
em ir logo, assim que obter um honesto retiro".
Em 28 de fevereiro Vicente entra no séquito da
rainha Margot com Capelão, tendo sido tal cargo conseguido por influência do Sr.
Leclerc de la Foret, e passa a viver na margem do Sena em uma casa que tem o
emblema de São Nicolau.
Em 14 de maio toma em arrendamento a Abadia de São
Leonardo de Chaumes, abadia cisterciense próxima de Rochelle, entre Dampierre e
Verines, que pertencia ao Arcebispo de Aix - Paul Hurault de L'Hopital, pelo
valor de 1.200 libras por ano. Este contrato foi assinado na tarde de 14 de maio
de 1610, quando se cometia a poucos passos dali, o assassinato do rei Henrique
IV.
DICCIONARIO CRONOLÓGICO HISTÓRICO-VICENCIANO
1580-1660 (III) P. Rafael Villarroya (q.e.p.d) Ed. P. Mitxel Olabuenaga. |