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Dr. Joaquim José de Souza Breves Filho - O Republicano

Esboço Biográfico - por Luis Ascendino Dantas


Dr. Joaquim José de Souza Breves Filho - O Republicano 

Esboço Biográfico

                 O Dr. Joaquim José de Souza Breves nasceu à 6 de julho de 1846, na fazenda de São Joaquim da Gramma, município de São João Marcos. Filho do Comendador Joaquim José de Souza Breves e de dona Maria Izabel de Moraes Breves, neto do Capitão-mór José de Souza Breves e do Barão de Piraí.

                Seu pai foi o maior proprietário de terras e escravos da Província do Rio de Janeiro, e homem de extraordinária influência social e política.

                O ambiente de poder e riqueza em que nasceu Joaquim Breves, bem raro, é favorável para a formação do homem que deve vencer pela sua cultura e valor próprio. Não obstante isso, ele aparelhou-se para a luta, por uma aprimorada educação, adaptando-se em sua vida a divisa "Honra e Saber".

                Desde a tenra idade, o Dr. Joaquim Breves manifestou um muito lúcida inteligência e pendor para os estudos. Frequentou os melhores colégios de seus tempo - os colégios Kopke e Victoria, concluindo seus preparatórios aos 18 anos de idade. Em seguida matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, onde cursou 5 anos, obtendo sempre as notas mais distintas, ao par da amizade e apreço de seus lentes e colegas, entre os quais se encontravam: Rodrigues Alves, Afonso Penna, Camilo de Brito, Teixeira Leite, Moura e Cunha, etc.

                Formando-se em 1869, iniciou a sua vida pública exercendo o cargo de Promotor da Comarca de São João do Príncipe. A política porém, o atrairia desde o seu discurso acadêmico. Alistando-se no Partido Liberal foi um denodado campeão das idéias mais adiantadas desse partido.

                Exerceu por várias vezes os cargos de Vereador e Presidente da Câmara de São João Marcos, seu município natal, onde sempre gozou de sinceras dedicações e justa estima, como chefe de grande prestígio. Com sua influência política extendendo-se a todo o 12o Distrito da Província, disputou em várias legislaturas o mandato de Deputado, quer na Assembléia Provincial, quer na Assembléia Geral, logrando ser eleito nas legislaturas de 1876 a 1881, e 1881 a 1886, tendo sido nesta última o leader do Partido Liberal. Tomou sempre parte ativa nos assuntos de maior interesse para a sua Província, e da tribuna sustentou as idéias mais avançadas do programa de seu partido.

Fazenda Santo Antonio da Olaria, São João Marcos.

                Em matéria política era radical, e por isto, muitas vezes discordava da orientação de seu partido, quando via que este estava falseando o seu programa, como mostrou em sua atuação na Assembléia Geral, por ocasião de discutir-se a reforma constitucional em 1879. Nessa notável discussão, defendeu o sufrágio universal, a abolição do poder moderador, a liberdade dos cultos, o casamento civil, etc., sendo mais tarde, muitas dessas idéias consubstanciadas na Constituição Republicana, declarando aliás, que queria muito mais do que toda a bandeira do Partido Liberal.

                As suas tendências eram de fato francamente republicanas, achando apenas que não havia ainda chegado o momento mais conveniente para implantar-se a República.

                Na mesma discussão do projeto da reforma constitucional, assim se exprimindo, com notável previsão, referindo-se à diversas emendas do Sr. Conselheiro Saldanha Marinho:

 

                 "... Quanto às outras emendas apresentadas pelo Sr. Conselheiro Saldanha Marinho, meu distinto amigo, no intuito de preparar a mudança da forma de governo, desculpe-me a Câmara que eu diga que tenho uma opinião especial: Sou monarquista, mas, sou pela monarquia, não porque entenda que é ela a melhor forma de governo. Sou monarquista porque entendo que nós não podemos fazer agora a República. Voto pois, contra essas emendas, não só por isso, mas porque, penso que a mudança na forma de governo se fará na praça pública, e não com emendas na Câmara dos Deputados. O meu ilustrado amigo, Sr. Conselheiro Saldanha Marinho, tendo-se declarado republicano, cumpriu com o seu dever apresentando essas emendas, mas, eu, votando por elas, não faria mais do que uma ostentação de princípios, que julgo ainda inoportunos.

                Não sutento, Sr. Presidente, nestas questões idéias nova, porque hoje esteja o Partido Liberal no poder, são as mesmas idéias que sustentei na tribuna da Assembléia de minha província ...."

                 Chegou porém, um momento político em que o Partido Liberal só cuidava das prerrogativas do poder e sustentar o trono já bastante abalado, enquanto o Partido Conservador, fazia reformas liberais, como a Lei 13 de Maio de 1888, que havia de marcar um grande passo para o advento da República.

                O Dr. Joaquim Breves, não podendo contramarchar, coerente com seus princípios, julgou chegado o momento oportuno de prestar a sua colaboração decidida para a vitória da República.

                Não o poderiam dissuadir dessa atitude, as insistentes solicitações de prestigiosos chefes e amigos, e menos ainda, o convite que então lhe fora feito para a Presidência de uma das Províncias.

                Nas eleições para a última legislatura do Império, foi apresentado pelo Partido Republicano como candidato à Deputado Federal pelo 12o Distrito, tendo como competidores: Pedro Gordilho Paes Leme pelo Partido Liberal e, Paulino de Souza Júnior pelo Partido Conservador.

                Assitiu a jornada da República de 15 de Novembro de 1889, ao lado dos grandes chefes Quintino Bocayuva, Saldanha Marinho e outros. Nas eleições para a Constituinte e 1a legislatura republicana, seu nome estava naturalmente indicado para um lugar na representação nacional. Eleito Deputado Federal, tomou parte ativa na Constituinte da República. Declarando-se em franca oposição a Floriano Peixoto, por ocasião das sucessivas deposições dos governadores e presidentes dos Estados, conservou-se em seu Estado ao lado do Governador deposto Francisco Portella, e em oposição à nova orientação ali organizada com o Governo imposto pelo golpe de Floriano, até a mudança operada no cenário político, pelos acontecimentos da Presidência do Estado - Alberto Torres em 1898.

                Embora, já um pouco retraído da política, que a seu ver, fazia-se em torno de pessoas e não de idéias e programas definidos, gozando porém, sempre de um grande e tradicional prestígio, seu nome foi colocado mais uma vez para candidato a Deputado Federal na legislatura de 1900 a 1902.

                Nos últimos anos de sua vida, afastou-se por completo da política militante. A sua saúde precária e os revezes sofridos em sua fortuna, não lhe permitiram mais a atividade e a direção que sempre desenvolvera como chefe respeitado e prestigioso que sempre foi. Nunca se lhe arrefeceram, porém, o ardor patriótico, o vivo interesse, com que sempre continuou a acompanhar os acontecimentos políticos, e a confiança nos altos destinos reservados à Pátria, até os seus últimos dias.

                O Dr. Joaquim Breves era dotado de uma sólida cultura. Espírito adiantado e estudioso, acompanhava com entusiasmo as conquistas de progresso em todos os ramos de atividade. Esse espírito progressista, demonstrava-o praticamente em suas propriedades, introduzindo os modernos processos de agricultura e indústria pastoril.

                Os traços peculiares de seu caráter eram uma extrema simplicidade e modéstia em todos os atos de sua vida. Era avesso à ostentação e exibições de qualquer aspecto. Por issso, preferia sempre o convívio com a família e de uma roda íntima de amigos, ao contato mundano da sociedade, cheia de artifícios e convenções.

                Era caridoso ao extremo da generosidade e do sacrifício; mas quando praticava um ato de benemerência, guardava uma completa discrição, fervoroso e sincero cristão que era.

                Amava a franqueza e era de uma lealdade absoluta, atributo aliás de sua estirpe. A franqueza como ele compreendia, era como que um polo oposto à falsidade e à hipocrisia. Franqueza, como ele praticava, era ser sincero nas suas afeições e ter a firmeza de sustentar as suas idéias e convicções.

                O Dr. Joaquim Breves foi incontestavelmente um ilustre e benemérito fluminense. A sua vida foi um exemplo de  firmeza de caráter, honradez e patriotismo.

                O Dr. Joaquim Breves casou-se em 11 de Novembro de 1876, com Dona Justina Bello de Souza Breves, senhora de altos méritos e virtudes, sua dedicada companheira até o seu falecimento, que se deu em 27 de junho de 1912.

                Desse consórcio houve os seguintes filhos:

                Maria Eulália de Souza Breves, religiosa, diretora do Asilo Bom Pastor, de Belo Horizonte; Joaquim Breves Filho; Luiz de Souza Breves; Justina Breves Pimenta Veloso, falecida, casada com o Dr. Rodolfo Pimenta Veloso; Carmem Breves Rodrigues Peixoto, falecida, casada com o Dr. João Cornélio Rodrigues Peixoto; Evangelina de Souza Breves, religiosa, diretora do Asilo Bom Pastor, de Recife; Eulalia Mercedes de Souza Breves; Victor de Souza Breves; Maria da Conceição de Souza Breves, religiosa, diretora do Asilo de Irmãs de Caridade de Fortaleza; Cecília Breves Falcão, casada com Eduardo Falcão, e engenheiro Wencesláu de Souza Breves.

 

 

 

 

     

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