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Por ocasião da
comemoração do Segundo Centenário da Introdução do Cafeeiro no
Brasil em 1927, Renato de Almeida visitou a antiga capital do café
e em artigo publicado no “O Jornal” sob o título “Mangaratiba –
Terra das Begônias”, nos dá sua opinião sobre essa estrada:
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Foto: Ruínas do antigo
teatro. Roberto Fernandes-360 Graus (http://troller.com.br/t4/blog/2009/10/04/conheca-algumas-belezas-de-rio-claro-rj-proxima-etapa-da-copa-troller/) |
Quando nos aproximamos de
Mangaratiba, descendo a encosta da montanha, por estrada que se
encurva entre a mataria densa, tocada de sol, naquela tarde de
inverno, fazendo rebrilhar toda a escala de verdes, ao meio da politonia de mil ruídos da floresta acrescidos do sussurro do rio
que se encachoeira aqui e ali, a cidade sorria ao longe, perto do
mar, que nos aparecia como uma mancha enorme, parada e grossa.
Mas o trajeto não é agreste.
Desde São João Marcos, que vimos por magníficas estradas,
amparando as barreiras com contrafortes, cortando inúmeras vezes o
rio com pontes, uma das quais de perfil romano, com seu ar
avermelhantado de limo verde, coberto de avencas. Tal obra soberba
é a "Ponte Bela", mandada construir pelo Comendador Joaquim José
de Souza Breves, e que dava acesso a outrora Fazenda da Bela
Vista, de sua propriedade, e, por onde escoava sua produção enorme
de café e riquezas.
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Ruínas do antigo teatro |
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Informa ainda, o custo formidável
para os fazendeiros e cofres públicos, na construção dessa obra:
Para uma justa estimativa de
todo o valor deste entreposto, basta citar o fato de ter custado
até 1855 aos cofres fluminenses, a alta soma de 623 contos de
réis, a estrada velha de Mangaratiba à São João do Príncipe,
quando foi entregue ao Desembargador Joaquim José Pacheco, que
incorporou uma companhia para reconstrui-la, tornando-a numa
extensão de 4 léguas uma excelente via de comunicação, como ainda
hoje a encontramos, macadamizada com obras de arte, pontes,
aterros, pared·es e bueiros, tudo feito com segurança e
sobriedade. Sobreleva notar que, neste período áureo a Província
do Rio de Janeiro antecipava a política rodoviária dos governos
modernos, empregando 42 por cento de sua receita na construção e
conservação de estradas, pontes e canais. Cada légua da estrada de
Mangaratiba custou 315:800 $ aproximadamente, algarismos que
naquele tempo representavam soma ponderável, quer para os cofres
públicos, quer para os particulares. Mas em compensação passavam
pela estrada anualmente, mais de 1.500.000 arrôbas de café. É
certo que a companhia explorada dessa estrada faliu, mas
intervieram outros motivos, que não há lugar para se referir aqui,
quando damos apenas os índices da prosperidade dessa região
cafeeira.
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Ainda em 1927, Griecco dá sua
contribuição, fazendo o mesmo percurso:
De São João Marcos a
Mangaratiba são vinte e sete quilômetros de estrada de rodagem,
construída de 1850 à 1857. Rodovia excelente, bem calçada,
defendida por sólidas muralhas nas curvas perigosas e abrindo
brechas em altas montanhas. A Ponte Bela, sobre o Ribeirão das
Lages, é elegantíssima na curva audaciosa do seu único arco de
cantaria. Da casa de diligência restam alguns capitéis de granito,
entre fetos e parasitas viçosos.
Belo é quando de um dos pontos
mais elevados da estrada se avista, por um rasgão da floresta, o
Atlântico. "Thalassa!..." É o mar, é o Saco de Mangaratiba, a
linda baía de águas tão rasas que fazem encalhar simples barcos de
pesca.
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