A mater familias
A
esposa de Joaquim Breves, era sua sobrinha e não gostava do
cativeiro. Queria que os negros fôssem bem tratados em suas
fazendas. Fez tudo para eleger seu futuro genro, Oliveira Belo,
deputado, achando que o mesmo poderia ajudar Joaquim Nabuco na
proposição da lei abolicionista.
Joaquim Breves entendia, porém, que
o progresso do Brasil estava na lavoura, e que a lavoura sem o braço
escravo era artigo de luxo. Trabalhou para mandar outro genro à
Câmara dos Deputados - o Comendador Cunha Leitão, para que o mesmo
lutasse em favor de suas idéias.Os velhos, marido e mulher, andavam
de fazenda em fazenda, cabalando votos e deixando os eleitores em
apuros.
Uns teriam que defender a Abolição
contra o sogro; os outros, o sogro contra a Abolição. Desta disputa
venceu o Comendador Cunha Leitão, batendo-se na Câmara dos
Deputados, a favor do cativeiro, mas desgostoso perdeu a saúde,
morrendo no dia em que votaram a Lei Áurea.
Dona Maria Izabel de Moraes Breves
-
Coleção João Hermes P. Araujo
Dona Maria Izabel, não compreendia,
porém, que branco e prêto se misturassem. Dizia sempre:
"Não conheço santo mulato".
Aborreceu-se muito com o caso de
uma afilhada sua, que criou e mandou depois de moça estudar em
Universidade dos Estados Unidos da América. Achavam-na caprichosa e
cheia de vontades. No segundo ano de sua partida, anunciou a grande
novidade: tinha se casado com um americano. Não dava outras
informações, porque estava de viagem marcada para o Brasil.
A Fazenda da Grama resolveu
festejar o acontecimento, porque todos queriam conhecer o ianque, e
por se constituir fato raro na sociedade brasileira, um casamento
deste tipo. Foram feitos os convites e capricharam nos preparativos
para a festa. Quando a liteira parou em frente ao portão da fazenda,
a banda do Pinheiro tocou. Os viajantes começaram a subir as
escadarias.
"Espanto!!!"
Os músicos perderam o compasso e
baixaram os intrumentos. No alto, Dona Maria Izabel parecia uma onça
acuada e Joaquim Breves fungava. Mais alguns degraus ela
descarregou:
"Sua idiota! Ir tão longe para
casar com um negro. Na fazenda temos uma porção!".
Extraído de "O
Reino da Marambaia", de Armando de Moraes Breves. |