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A pouco mais de
500 metros da cidade de- São João Marcos, em terras da Sesmaria
de Hilário Ramos Nogueira, à margem esquerda do Rio Araras,
assenta a sede desta fazenda. Ali era estabelecido com engenho
de açúcar e de café, o velho Hilario Nogueira, em cuja casa se
hospedou D. Pedro I em 1822. Em 14 de agosto daquele ano, partia
D. Pedro I, do Rio de Janeiro, para São Paulo "para acomodar as
dissensões internas e derramar sobre os povos o bálsamo de
consolação e o da tranquilidade". Pernoitou o Imperador na sua
Real Fazenda de Santa Cruz.
No segundo dia de jornada, tendo atravessado a cavalo a serra de
ltaguahy, chegou a São João do Príncipe na tarde de 15,
hospedando-se na Fazenda de Santo Antonio da Olaria, onde
pernoitou. No dia 16, partiu o Imperador, levando em sua
companhia dois filhos do Capitão Hilário, Luiz e Cassiano Ramos
Nogueira, este mais tarde graduado em Capitão-mór, juntando-se a
comitiva, mais adiante em caminho do Passa-Três, o fazendeiro
Joaquim José de Souza Breves, depois furriel e alferes da guarda
de honra de S. M., e mais o Sr. Floriano Sá Rios.
A
estadia de D. Pedro em São João do Príncipe foi rápida, S. M.
percorreu vários trechos da Vila em companhia do Capitão
Hilário, tendo sido acompanhado até a fronteira de São Paulo, em
Pouso Seco, por grande número de fazendeiros e representantes do
Senado da Câmara.
O prédio de então era de andar
térreo, uma casa baixa colonial, no centro do grande terreiro;
desse edifício nada mais existe, senão os vestígios dos
alicerces.
Ele desapareceu para dar lugar ao novo palácio, quando essa
fazenda passou a propriedade do Comendador Joaquim Breves.
O novo solar foi construído em 1865 sendo o projeto de sua
construção, da autoria segundo era corrente, do Conde de Fé de
Ostiani, genro que foi do Comendador Breves.
O palácio se compõe de dois
andares, construído de pedra e cal, com madeiras escolhidas, e
tiradas das matas da própria fazenda. Contem o andar térreo 10
janelas de frente, 2 portas e I portão, que dá entrada para o
pátio de pedra lavrada; 6 quartos, e sala de jantar, 3 salas
menores para recepções, corredores, I sala para serviço de copa
e dispensa, 6 janelas, 4 portas e portão pelo lado dos fundos,
O
andar superior contem 7 portas de sacada e 8 janelas de frente,
com 10 janelas para os fundos; 6 janelas de lado; 10 quartos, 4
grandes salas, 2 corredores, 1 sala para capela, com 16 portas
internas que dão entrada para os salões, 2 escadarias
envernizadas, uma saindo do pátio de pedra, e outra da entrada
pelo saguão interno, e ainda um portão para entrada geral.
Grande cozinha com 2 quartos de 2 portas e S janelas, e uma
dependência que servia de enfermaria e pharmacia; salão no
socavão da I." escada para outros misteres. Das casarias
existentes até 1910, como senzalas, armazéns, depósitos, paióis,
casa de tropa, ferraria, carpintaria e engenhos, nada mais
existe; a sua proprietária de agora a Companhia Light and Power,
demoliu aquilo tudo para aproveitar os materiais em seus
serviços.
Nos fundos da fazenda, abriu a companhia o grande túnel, por
onde passam hoje as águas do rio Pirahy, para caírem no leito do
Rosário, que por sua vez se despeja no rio Araras. Tem esse
túnel a extensão de 8.429 metros, sendo em linha reta e aberto
em rocha granítica, com 66 metros de altura do seu nível no
lugar denominado Vargem e 144 metros de altura em cavadeira.
Começado a ser construído em janeiro de 1912, estava terminado
em julho de 1913. O túnel foi perfurado por meio de brocas e
todo' o mecanismo movido por motores elétricos. Para o
suprimento de energia a Companhia fez construir uma linha de
transmissão da Usina de Fontes, até a entrada (o túnel com todos
os aparelhos em ação consumiu-se 30.000 kilowatts horas por dia,
incluindo a iluminação elo túnel e dos acampamentos vizinhos.
Essa fazenda conforme estatística de 1906 possui 1. 303
alqueires de terras, em mata, capoeiras e lavouras, e regada, de
vários riachos que tomam no seu curso varias denominações. Havia
no grande gramado em frente ao prédio, um enorme, repucho de
pedra e cimento, circundado de bancos de pedras e de paus toscos
- tudo desapareceu pelo descaso de seus administradores.
Interior de
um dos salões da Olaria
Do lado interno da fazenda
existia uma grande praça macadamisada, que servia de terreiro
para café e outros cereais, onde se fazia a seleção dos mesmos
circundado também, de uma fita ou trançado de taquara. O Engenho
de açúcar, deixou de funcionar, para dar lugar aos aparelhos de
destilação de aguardente.
O maquinismo de café, um dos maiores do município funcionou até
1898.
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O conde
Alessandro de Fé d'Ostiani (esquerda) genro do comendador
Joaquim José de Souza Breves (direita), foi o autor do
projeto da construção da casa de Santo Antônio da Olaria.
Sua fachada é uma lembrança do Pallazzo Fé D'Ostiani, em
Brescia, Itália, residência do conde italiano. |
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O pomar formado de espécies de qualidade, desapareceu, existindo
hoje, apenas as árvores que o machado destruidor respeitou pela
sua velhice, e que ainda hoje choram seus dias de grandeza
magnífica, quando sob suas frondes repousavam os grandes do
Império.
Pátio
interno da fazenda Olaria.
Histórica é
pois a Fazenda de Santo Antonio de Olaria, onde muitos episódios
políticos ali se resolveram no último período do Império, e no
do primeiro período Republicano.
Permanece hoje a legendária fazenda, no monótono silêncio das
coisas tranquilas, e quem ali vai, tem as recordações de outrora
e a lembrança daquele vai e vem, de forasteiros políticos que
buscavam lá a sorte de seus triunfos ou suas desilusões.
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