O rei do café no Brasil Imperial
Comendador Joaquim José de Souza Breves
Foi o "rei do café" no Brasil Imperial. Amava sobretudo
a gleba, a quem estava ligado por laços eternos. Proprietário de mais de uma centena de
fazendas, suas terras iam desde da Restinga da Marambaia até as Minas Gerais em
Piumbi.
Sob sua chefia os cafeeiros eram plantados em ondas verdejantes, pelos vales, colinas e
encostas de seus imensos latifúndios. Desflorestar, preparar a terra e plantar era uma
constante de sua vida. Foram plantados mais de cinco milhões de mudas de cafeeiros. Em
1860 colhia 360.000 mil arrobas de café, ou seja, 1,45 por cento da safra total do país,
que fora de 14.125.785 arrobas. Em 1887 sua colheita deveria oscilar entre 250.000 a
400.000 arrobas.
As janelas do casarão da Fazenda da Grama abriam-se nas épocas de trabalho
intenso de colheitas e plantios, ou nos dias e noites de festas. Também descerravam a
porta da Igrejinha, para as cerimônias solenes, do mês de Maria e do Rosário. Nas
festas haviam banquetes para os convidados, amigos e parentes. A cena seguinte se repetia
a miúde: mesa posta para 20 a 30 pessoas, coberta por uma toalha de linho belga
adamascada, no centro flores cultivadas e silvestres, pratos de louça inglesa, talheres
de prata lavrada portuguesa com as iniciais JSB e copos do mais fino cristal. Servia as
iguarias, em baixela de prata, negrinhos descalços de casaca vermelha. Eram alourados
perus, leitoas "pururucas", assados no forno de barro de fazer pão, arroz
soltinho, cozido nas panelas de ferro ou de pedra, no fogão de lenha. O cardápio
regalava o mais exigente gourmet, regado com vinhos franceses e portugueses, ao som de uma
orquestra de escravos. À sobremesa, doces caseiros, fios de ovos, baba de moça, papos de
anjo, quindins, batata doce, abóboda e pés de moleque. Do pomar, colhidas pouco antes de
servir, deliciosas jaboticabas bem pretinhas, abacates, abacaxis e suculentas mangas. Do
Rio, vinham as frutas importadas, peras, maças, uvas e ameixas. Depois do café, da
melhor qualidade da fazenda, era servido, cognac e charutos. Conversavam sobre política
local, os principais acontecimentos ocorridos na corte e o assunto predileto era o café e
suas vicissitudes. Os costumes, hábitos e educação eram palacianos. Nas tertúlias
familiares, falava-se o francês por causa dos ouvidos indiscretos e bisbilhoteiros. A
vida campestre transcorria ativa, num ambiente de conforto e segurança.
Em volta das
construções verdejavam hortas e pomares, estendiam-se jardins encantados. A enorme
senzala que abrangia as fraldas de um morro, abrigava mais de dois mil escravos.
À casa grande,
ocorriam dezenas de políticos, ricaços e titulares. Centro político dos mais
borbulhantes, São Joaquim da Grama, viu enredarem-se muitas dessas tramas ardilosas em
que eram férteis os lugarejos do interior.
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