A pequena área de terras onde hoje se assenta a comunidade
quilombola de Bracuí em Angra dos Reis, RJ, representada pela
ARQUISABRA, faziam parte da fazenda de Santa Rita do Bracuí, que
pertenceu ao comendador José Joaquim de Souza Breves, conhecido como
José Breves, irmão de Joaquim Breves, denominado "rei do café no
Brasil Imperial". Filho do capitão-mór José de Souza Breves e Maria
Pimenta de Almeida Breves, casou-se com um sobrinha, Rita Clara de
Moraes Breves, filha dos barões do Piraí, de quem não houve filhos.
Homem culto e de hábitos refinados foi um grande benemérito de obras
sociais em muitas cidades do vale do Paraíba. Em seu testamento
feito em 1877 e aberto em 1879, ano de seu falecimento, libertou
todos seus escravos de diversas cores, idades e ambos os sexos,
nascidos nas suas fazendas de Bracuí, Cachoeira, Cachoeirinha, sob
seu domínio até o dia 28 de setembro de 1871, com a condição de
prestarem serviços nas mesmas fazendas, até que se cumprirem os
legados e disposições de seu testamento, que não deveria exceder o
prazo de quatro anos.
A doação formal das terras do Bracuí efetuadas
pelo Comendador José de Souza Breves através de testamento em 1877, onze
anos antes da Abolição da Escravatura deveria facilitar a resolução do
problema. Entretanto, na terra da papelada, da burocracia e da falta de
respeito pelos contratos, isso tudo foi deixado de lado. As parcelas de
terras que variavam entre um e cinco alqueires geométricos (48.800 m2 de
área por alqueire) foram expropriados na década de 1970. De 1879 até
1970 (por quase cem anos) os moradores descendentes de escravos não
foram incomodados. Com a abertura da estrada Rio-Santos e a explosão
imobiliária dos condomínios de luxo da Costa Verde em 1975, a pressão
aumentou com a proibição de plantio, construção de novas residências e
até mesmo a posse pela água das nascentes do rio Bracuí situadas na
serra quilombola.
Em 1978 os moradores entraram com uma ação ordinária de reivindicação,
através da FETAG-RJ, que defendeu a tese de posse imemorial para
comprovar que os moradores eram descendentes dos escravos libertos
aquinhoados pelo comendador José Breves.
O casal
José de Souza Breves e Rita Clara de Moraes Breves, proprietários da
fazenda Santa Rita do Bracuí.
A Fundação Cultural Palmares reconheceu a
comunidade remanescente de quilombo de Santa Rita do Bracuí, em 1999. O
processo que está no INCRA encontra-se em fase final de Relatório
Técnico de Identificação e Delimitação – RTID.
Em Angra dos Reis, às margens da rodovia Rio-Santos
encontra-se a comunidade quilombola Santa Rita do Bracuí.
Desde os anos 1960 os moradores travam lutas contra
grileiros e condomínios de luxo para se manter nas terras
herdadas de seus antepassados. Antigos e jovens moradores
compartilham memórias, experiências e projetos e se associam
para a conquista da titulação da terra como território
quilombola e para construir alternativas de desenvolvimento
comunitário.
Colaboração de Associação dos Remanescentes
de Quilombo de Santa Rita do Bracuí
Em 29 de setembro de
1879, o Comendador José de Souza Breves registra em cartório o
inventário de
seus bens, afirmando no 1º volume, às fls. 157v/161, “...Declaro que
a Fazenda de Santa Rita do Bracuhy, na
Comarca de Angra dos Reis, tenho conservado de propósito para della
fazer uma applicação caridosa e com
inteira satisfação para a expor por que desejo. Attendendo eu a
lastimável estado de penúria que se observa
n’aquelle logar, deixo em benefício das pessoas alli residentes e
que já são meu agregados gratuitos, e todos
moradores – para não ficarem privados dos meios de subsistência, o
usufruto por três gerações da parte da dita
fazenda (...) Declaro que extinta a sucessão de direitos dos meus
agregados e libertos, isto é, passadas as trêz
gerações que a lei concede, essas terras serão de pleno direito d’aquelles
que existirem”.
Líderes comunitários, jongueiros e descendentes dos escravos da
fazenda de Santa Rita do Bracuí
Manoel
Moraes
José Adriano
Joana
Azevedo dos Santos
Celina Cirilo
A Casa de Estuque, que já está
funcionando em um grande casarão construído para abrigar as atividades
culturais, educacionais e de lazer da comunidade.
A capela de
Santa Rita
Dona Celina Cirilo em frente a Capela de
Santa Rita do Bracuí. Esta capela foi construída pelo comendador José de
Souza Breves em homenagem a Santa Rita e à sua mulher Rita Clara. Dona
Celina, zeladora da capela, frequenta desde os nove anos.
O altar de Santa Rita e São Benedito
A capela de São José
O casarão da fazenda Bracuí possuía um
oratório interno dedicado à Santa Rita. A imagem da santa de quase 1
metro de altura ornava o altar. O altar foi transferido para a capela
junto com a imagem da santa. Os moradores mais antigos dizem que esta
estátua foi roubada e substituída por outra, que recentemente foi
restaurada e se encontra no museu em Angra. Acreditam que a documentação
da doação dos quinhões de terra aos escravos estava dentro da estátua
que foi roubada.
O Sr. José
Adriano em entrevista a Sandra Bragatto (1996), comenta sobre a igreja de São
José e seus dois cemitérios: um feito pelo comendador José Breves e o
outro mais recente feito pela Prefeitura Municipal de Angra dos Reis. Os
moradores do Bracuí, nas terras da fazenda eram enterrados no cemitério
construído pelo Breves, e os de fora no da Prefeitura.
O orago de São José homenageia o
comendador José Joaquim de Souza Breves e o de Santa Rita, sua mulher
Rita Clara de Moraes Breves. Ambos foram benfeitores do lugar,
libertaram seus escravos, e construíram e ajudaram a construir inúmeras
obras assistenciais na região de Angra, como em Piraí, Arrozal,
Pinheiral, Barra do Piraí, Petrópolis e Lambari em Minas Gerais.
No testamento de José Breves, os
descendentes, ex-escravos e
agregados que receberam quinhões de terras, ultrapassam os 290
alqueires geométricos. Esta terra foi perdida, expropriada, vendida,
tomada à força. Tomemos como exemplo:
1 alqueire Mineiro = 48.400m² = 4,84 ha, ou
seja, a área que foi destinada aos quilombolas de Bracuí - por
testamento - é de 14.152.000 m2 (quatorze milhões de metros quadrados)
equilvalente a 1400 campos de futebol.
Hoje, se a ARQUISABRA - Associação dos
Remanescentes de Quilombo de Santa Rira do Bracuí, que representa os
moradores quilombolas, não possui 5 alqueires dos 290 doados por José
Breves. A luta continua para que direitos sejam respeitados.
Governo do Estado do Rio de Janeiro. Secretaria de Cultura. <http://www.cultura.rj.gov.br/artigo-banco/associacao-dos-remanescentes-de-quilombo-de-santa-rita-do-bracui>
A saga dos Breves. Pe. Reynato Breves. Editora Valença.