Visita ao quilombo de Santa Rita do Bracuí, Angra dos Reis, RJ.

 
 
     
 
     
     
     
     
     
     
     
     
março de 2014
 
Em 18 de março de 2014 estivemos visitando o Quilombo de Bracuí em Angra dos Reis, RJ, para a pesquisa de atrativos culturais que serviu de base para o Guia Cultural da Costa Verde. Fomos muito bem recebidos por Marilda, líder quilombola, e Geraldo. A visita valeu um verbete do Guia, do qual destaco um trecho que começa com um ponto de jongo:

"Nas adjacências da velha Rua Larga, da Prainha, Gamboa, Saúde e Santo Cristo, o espírito coletivo africano, com sabedoria e esperteza entoava um antigo ponto de jongo:

O pinto com o galo dorme junto no puleiro
Se o galo facilitá o pinto canta primeiro.[...]

[...] Entretanto, falando de café, escravos e de rotas marítimas, o passado e o presente às vezes se misturam, e o inusitado quase sempre é intempestivo. Por conta de um trabalho de campo para elaboração do Guia Cultural da Costa Verde, estivemos visitando a região de Paraty e Angra dos Reis. No quilombo de Santa Rita do Bracuí, com o barulho da cachoeira ao fundo, perguntei ao Sr. Geraldo se os peixes colocados no telhado ao sol não estragavam. Ele sorriu e disse: - Mulato velho, para cozinhar com abóbora!.
O quilombola oferece água de mina, fresca, tirada da moringa. Bebo com prazer para refrescar a garganta e tirar a poeira. Ele, mostra orgulhoso sua criação de galinhas, patos, e a dúzia de cachos de banana colhidos recentemente. Ágil, sobe o morro e mostra as pedras que compunham a casa maior e onde ficava o alambique de cachaça da antiga fazenda do Bracuí. Mas há tristeza em seu olhar.
Dona Marilda que gentilmente nos ajuda na visita, também quilombola, às margens do rio, olha para o chão e recolhe minúsculas peças coloridas. Diz sorrindo: - São louças da casa grande. Vou fazer um mosaico!. Coloca em minhas mãos um minúsculo pedaço de louça branca com desenhos azuis. Tento achar alguma mas a vista falha. Ela acha graça e diz que tem que apurar o olhar. Dona Marilda também está triste.
Descendo a rua de terra, depois da capelinha de Santa Rita, chegamos ao centro de reuniões do Quilombo de Santa Rita do Bracuí. Estava esclarecido o motivo de tanta tristeza. A construção tão esperada e sonhada havia desabado. Uma catástrofe! Felizmente ninguém se acidentou!
Falo para ela: "Caveira de burro dos Breves enterrada na região!". Acha graça e concorda comigo.
Pois é, a história familiar me persegue e me acompanha. Faço o registro. Um close na bela santa negra que compunha o painel principal da construção redonda, feita de eucaliptos, palha e barro jogado no trançado de bambu. Mas a esperança é a última que morre, pois sim. Vão reconstruir tudo. Desta vez, sob o olhar atento dos velhos griôs, jongueiros de fibra, como os Srs. Manoel Moraes, José Adriano e tantos outros. As imagens de Santa Rita e São José estão restauradas. Foram oferecidas pelo comendador José Breves para as respectivas capelas no século XIX. Atualmente estão sob a guarda do Museu Sacro da Igreja da Lapa em Angra dos Reis. Uma boa notícia!" [...]

Publicado no jornal Rua Larga Ed.44 em 17 de abril de 2014. Louças azuis, vapores e brigues, e peixe com abóbora no Bracuí.
         
         
         

                                                                                                          

© 1996/2022 - Todos os direitos reservados: Aloysio Clemente M. I. de J. Breves Beiler...............
 História do Café no Brasil Imperial