Setembro,
1859.
Rumando
para Piraí, naquele tempo centro de enorme e riquíssima
cafeicultura, caminhou Zaluar quatro léguas, costeando a
margem direita do Paraíba e sob terrível sol, atingiu a
enorme fazenda do Pinheiro de propriedade do Comendador
José Joaquim de Souza Breves, que desde os primeiros
momentos lhe causou prodigiosa impressão. Era aliás, uma
das mais notáveis propriedades do Império, celebrada em
todo o Brasil pela opulência da casa, o vulto das
benfeitorias, a extensão enorme dos cafezais e pelo
apreciável número de escravos.
No município de Piraí, cuja média de produção anual se
computava em quinhentos e vinte mil arrobas, quase vinte
por cento desta grande safra pertencia ao Comendador
José Breves, cujas lavouras forneciam noventa mil
arrobas, além das dez mil que colhia em sua fazenda de
Barra Mansa. Apenas um outro fazendeiro o sobrepujava:
seu irmão, o grande produtor de café de todo o Império,
também comendador - Joaquim José de Souza Breves, pois
além de colher noventa mil arrobas no Piraí, ainda
contava com cem mil arrobas, nas suas fazendas no
município de São João do Príncipe, nas freguesias de São
João Marcos e do Passa Três, sobretudo na famosa
propriedade de São Joaquim da Grama. Joaquim Breves
também possuía propriedades em Rezende, na freguesia de
São Vicente Ferrer, e em Barra Mansa na freguesia de São
Sebastião. O total de suas safras atingiu em 1860, cerca
de 380.000 arrobas de café, cifra imensa em nossos dias
e absolutamente prodigiosa naquela época.
Descrevendo a casa grande da Fazenda do Pinheiro, hoje
sede principal do Posto Zootécnico Federal do mesmo
nome, extasia-se o viajante português Zaluar:
" A casa do Sr. Comendador José de Souza Breves, na sua
fazenda do Pinheiro, não é uma habitação vulgar da roça;
é um palácio elegante, e seria mesmo um suntuoso
edifício em qualquer grande cidade. Situada sobre uma
eminência, domina o vasto anfiteatro de montanhas que a
circundam, e revê-se por assim dizer nas águas do
orgulhoso Paraíba, que, poucas braças em frente, murmura
seguindo o impulso de sua rápida correnteza. Duas pontes
que se encontram sobre uma ilha no meio do rio, dão
passagem mesmo em face da casa do Sr. Comendador Breves,
de uma para outra margem. O aspecto que esta vista
apresenta é realmente pitoresco e faz um efeito
admirável a quem contempla com olhos de artista.
Um
delicioso jardim se desdobra com um tapete de flores
pelo pendor da colina sobre que está assentada esta
suntuosa habitação, e dá-lhe um novo realce. Duas
escadas laterais de mármore levam a uma espaçosa
varanda, para onde deita a porta do salão de espera, que
é uma vasta quadra cujas paredes estão adornadas pelos
primorosos retratos de Sua Majestade o Imperador e Sua
Majestade a Imperatriz, devidos ao hábil pincel de
Cromoelston. Seis ou oito magníficas gravuras
representando as cópias de diferentes quadros de Horácio
Vernet, completam a decoração artística desta elegante
sala, correspondendo a mobília e os ornatos ao bom gosto
que por toda parte reina. A sala nobre é uma peça
soberba. Grandes espelhos de Veneza, ricos candelabros
de prata, lustres de cristal, mobília, tudo disputa a
primazia ao que deste gênero se vê de mais ostentoso na
própria capital do Império. Enfim, todas as outras
salas, o edifício inteiro está em harmonia com o luxo,
profusão e riqueza do que acabo de descrever.
Porém, o que mais me surpreende e merece a minha
particular atenção, são os magníficos caminhos de
rodagem que em todas as direções cortam esta fazenda. O
Sr. Comendador José Breves compreende o que felizmente
já vai acontecendo a também a muitos dos nossos
fazendeiros, que as boas vias de comunicações são um dos
meios mais eficazes de suprir com vantagens os braços
que tanto escasseiam.
O caminho aberto uma vez, compensa em pouco tempo o
gasto da construção e poupa o desperdício de muita força
produtiva. Um carro puxado por alguns bois, transporta a
carga que dificilmente seria carregada por cinquenta ou
sessenta escravos.
Por aqui se pode já calcular quanto lucra o fazendeiro
que manda abrir bons caminhos em seus terrenos, e
aumenta por consequência no cultivo de suas plantações o
número de braços que retirou do transporte dos produtos.
O mesmo acontecerá quando estiverem convenientemente
construídos os grandes troncos de estradas e abertos os
caminhos vicinais, acabando o fazendeiro com as tropas,
em que, além da prodigiosa despesa que estas fazem,
estão empregados os melhores serviços de sua escravatura
de um modo tão prejudicial para seus próprios
interesses.
Os fazendeiros como o Sr. Comendador José Breves são os
que dão o exemplo que deveria partir nestes assuntos das
altas regiões administrativas. Apenas deixamos o caminho
de uma destas fazendas, um atoleiro, uma ponte
desmoronada, uma estiva rota, nos vem advertir que
entramos na estrada "pública", subvencionada pela nação
e fiscalizada pelo governo provincial! O contraste é
realmente vergonhoso, e não deixaremos de chamar
constantemente para este assunto a atenção do digno
atual presidente da província, quanto mais que temos
toda a confiança no seu zelo e na boa vontade que o
anima em favor dos melhoramentos que tão altamente
reclamam os interesses da lavoura.
Estamos cada vez mais convencidos que o futuro dos
agricultores, e por consequência o do país, depende
absolutamente do tino da administração e da estabilidade
de um governo que possa identificar-se praticamente com
o estudo de seus recursos e de suas necessidades. A
propriedade do Sr. Comendador José de Souza Breves é
pois, como já disse, uma das maiores e das mais ricas da
Província do Rio de Janeiro. A grande extensão dos
terrenos e a fertilidade deles, as vastíssimas
plantações de café que cobrem um largo espaço de
elevados morros, o número prodigioso de cativos
consagrados aos trabalhos agrícolas, os grandes
auxiliares de que dispõe o proprietário, já como
abastado capitalista, já como homem de bom senso e
praticamente conhecedor da nossa lavoura, conferem a
este estabelecimento as honras de primeira grandeza.
Uma descrição exata e minuciosa de tudo o que há para
admirar nesta fazenda, precisaria de uma série de
artigos, para ser justo com tamanha grandeza. Era o
Comendador José Breves, homem de grande cultura,
adiantado e de largas vistas, explicando assim a
excelente administração de sua fazenda. Deixando o
Pinheiro onde pernoitara, ainda consagra Zaluar em suas
"Cartas do Interior", uma tantas linhas de arroubado
entusiasmo ao grande estabelecimento agrícola do
Comendador José Joaquim de Souza Breves, aliás, ausente
naquela ocasião, declarando Zaluar ter sentido muito, e
que só mais tarde na Corte obtivera o prazer de
conhecê-lo. |