Nas antigas fazendas de café do século
XIX, no vale do Paraíba fluminense, a vida cotidiana era registrada
pelos párocos das capelas e igrejas da região. Nascimentos, óbitos,
batismos e casamentos de escravos, livres, proprietários de terras,
religiosos e autoridades, eram anotados pelos vigários, cônegos e
religiosos que prestavam assistência aos templos, capelas e igrejas
matrizes da região. Muitas capelas ficavam nas próprias fazendas, onde o
registro era feito, após o batizado ou o casamento dos habitantes da
fazenda. Em 1850, com o advento da Lei de Terras, as paróquias
desempenharam também esse papel notarial: os fazendeiros, posseiros e
proprietários da região, entregaram aos religiosos suas promissórias,
anotações, registros, escrituras e promessas de compra e venda, para
fazer valer seus direitos. A consulta desses registros permite ao
historiador e aos que desejam conhecer o passado encontrar um rico
material para pesquisa, análise e reflexão de como viviam as pessoas
daquela época. O comendador Joaquim José de Souza Breves, considerado como o "rei do café", proprietário de dezenas de fazendas e de escravaria numerosa, mantinha rigidamente o registro de seus "pertences", cuidando para que essas anotações, realizadas em suas fazendas não se perdessem. Tinha assim, a possibilidade de controlar seu plantel de escravos através das matrículas, cujo registro era obrigatório, e a manutenção permanente de seu poderio quase feudal. Entretanto, com a derrocada do café no pós-Abolição, muita coisa se perdeu na desapropriação das fazendas, na queima de arquivos contábeis com o intuito de apagar o passado escravista. Sobraram alguns registros, e pela numeração de matrículas podemos concluir que o número de escravos das fazendas de Joaquim e de seu irmão José, passavam em muito dos doze mil. |
Livro de Nascimentos, Óbitos, Batismos e Casamentos de todas as fazendas do comendador Joaquim José de Souza Breves: o "Rei do Café". Arquivo da Paróquia de Sant'Anna do Piraí. |
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História do Café no Brasil Imperial |